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12 julho 2010

De volta à Brava


Passei o dia sem voz e foi bom parar de falar um pouco. Deixar ao vento somente as palavras necessárias. Mas agora, começo de noite, os dedos denunciam essa coisa de estar sem voz.

É que ontem foi o dia em que voltei à Praia Brava. Tão próxima e tão longe, há seis anos, na molecagem, na liberdade, na coragem dos vinte. Houve uma vez, ainda mais pra traz de minha vida, que fui com minha mãe e minha irmã. Nos encantamos nadando com a roupa do corpo naquela água azul de magia. E, se não é invenção de minha cabeça, estive por lá, ou por muito perto, com meu pai. Isso já deve fazer vinte anos. Atravessamos uma íngrime montanha e ela está lá.

Ontem apresentava novas formas e a mesma essência. Sua beleza ainda segue firme. Impossível não valorizar qualquer segundo nela. Mas está machucada pela atitude ignorante de todos nós. Essa praia encravada em um vale de mata-atlântica, com ondas fortes e perfeitas ainda é a pequenina surreal Praia Brava.

Minha voz embargou enquanto eu cantava na beira do mar e um plástico chegou boiando aos meus pés. Não deixe um plástico estregar tudo isso. Eu usaria meus últimos segundo de voz para gritar: Salvem os Oceanos!

02 julho 2010

NONA

À primeira vista, Nona assusta o turista.
Olha por cima, de seu andar privilegiado,
Àquele que se aproxima com ganas de tarado.

Mesmo desdenhado, por um olhar apertado
Não há andarilho, caminhante ou passante
Que não se atente pra seu lado.

Nona chama a atenção!
Pernas longas e grossas, de índia escaldada,
Altiva como um português do sertão.

Quem nunca a viu passar sorrindo para fora
Não sabe o que esperar do coração dessa senhora

À segunda vista, se faz Ninha e o revés ao viajante
Coloca-se a envolver e disparar energia
Ao novo amigo e quem sabe futuro amante

Então já não se pode fugir dos abraços dedicados
Por povoados, cidades e países se espalham
Àqueles que ficam saudosos de seus cuidados

Mais bela ainda se revela quando se abre!
Flutua no ar sua pureza Guarani
Por dentro da casca de avaxi hi'y pe*

Só quem já sentiu a pureza de seu olhar naturista
Conhece o privilégio de se descobrir no coração dessa senhorita


* (Do idioma Guarani - Espécie de milho de espiga comprida. Fonte: Léxico Guarani, Dialeto MBYÁ, de Robert A. Dooley.)