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27 outubro 2010

Da mensagem televisionada




Hoje, no ar, o mais novo comercial de família feliz.
Escambo de dignidade por acesso à rede.
Tratar com os Espanhóis.
Agradecimento
à F.H.C.

Esi minha interpretação. Coloco-as a fim de colaborar com outros receptores dessa informação. Clique aqui para ver a mensagem televisionada.

22 outubro 2010

Chico Buarque em três linhas

Todos se fartam entre as massas, cervejas e a perna de carneiro. Camisas de futebol, coloridas, penduradas no teto do restaurante, alegram e fortalecem a falação, típica comemoração das famiglias paulistanas. Na cantina, todos comem muito.

Mas não é que no meio da comemoração acontece o diálogo e eu choro. Olho ao redor e ninguém vê a lágrima, nem eu. Só uma pessoa me lança olhares diferentes. Sem repreensão no tom de sua voz, o Homem fala “você não pode chorar por isso.”

Entendi que ele e muitas outras pessoas jamais sentiriam o meu sentimento, por melhores e maiores que fossem. “Todos buscam coisas para se preocupar. Eu escolhi me preocupar com isso”. Meu choro é uma lágrima só.

A comida acabou, as pessoas tomaram seus cafés e partiram. Minha barriga não saiu tão pesada .Um pouco por conta do diálogo indigesto. Outro tanto por desprezar aquela fartura. Mas na cabeça eu fiquei com a estranheza de um almoço familiar de domingo.

Um homem a me questionar quanto à minha capacidade de sentimento de indignação com relação a mais uma derrota temporária do movimento de mudança e transformação nesse espaço que é o Estado de São Paulo. E eu chorei.

Demorei a perceber o peso da repreensão. E não tive essa consciência sozinha. Encaracolei minha mente com a situação por dias. Me questionei, obstinada a enxergar de qual maneira aquele homem interpretava a realidade.

Não podia ser a mesma realidade que a minha. Será que eu estava perdida? Será que pensava assim sozinha? Não era um menino, uma menina ou uma mulher a me questionar. Era o Homem. E minha lágrima era pela política. Eu devia estar errada.

No dia seguinte, pulei da cama, com vontade de existir e encontrar uma resposta. Parecia tão distante, mas se apresentou ali, à minha frente e a frente de todos. Obstinada, abri a minha mente e escutei o som do cotidiano.

Na noite de terça-feira, tudo fez sentido. Era o homem. Era Chico Buarque, sem mais sobrenomes, como assina seus discos. Era o Chico, das canções eternas, das mulheres. De Brasil a Atenas. De mãos dadas com Gilberto Gil. Assumido protagonista.

Quanta força ganhei. E aquela lágrima sob julgamento foi absolvida. O Outro pode voltar e não desviarei o rosto. De todos os Homens, é mais forte o que inspira uma mulher do que aquele que a repreende.



Chico e Dilma, em 19 de outubro de 2010, Rio de Janeiro

18 outubro 2010

Sempre que faço...

Eita que frio na barriga!
E não é que eu deslanchei, fui lá e fiz.
E pode ser que dê em tudo e pode ser que dê em nada.
Vou ter que esperar para saber.
Ao menos essa espera vale a pena.
Uma resposta, positiva ou negativa, há de vir.

E quando nada se faz,
Nenhum frio na barriga,
A certeza do nada lateja.
Não há espera a se esperar.
Nem dúvida sobre nada.
Nenhuma resposta entre milhões de dúvidas.


Om ॐ de vibrações positivas no Salto do Tabaquillo, Serras de Córdoba

15 outubro 2010

Satisfação contada

Nem toda a insatisfação é negativa. Insatisfeita quero mudar. Transformar, construir, reformar. Não estou satisfeita com tudo agora. É bom estar tranquilo, mas é preciso se incomodar, para tudo se mover. É como a água do mar, que vai e vem sem nunca parar, escorrer ou evaporar.

Estavam certos Francis Hime e Chico Buarque. “Aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer”. Se tudo tomasse jeito, como o tempo poderia correr? Não percebe que tudo só estava certo enquanto se construía. Por isso agora digo, que ainda e tem muito o que se construir, antes de destruir para concertar.

13 outubro 2010

Quando a velhice chega

Nesse feriadão, com dia das crianças, teve também reflexão sobre a velhice




Feriadão é tempo de mesa de bar e conversa fiada. Acontece que feriadão em época de eleição transforma mesa de bar em campo de batalha e fórum de discussão. Deve ter acontecido bastante por aí. Comigo aconteceu assim.

Eu cheguei na mesa da velha guarda e botei pra fora da boca a minha opinião. E não é que os velhos, aos quais tenho muito respeito, me vieram com um papo de “você é uma muleca que não sabe nada”. Ai, quem me conhece, sabe o nível da resposta. “Pois se sou muleca, tenho todo um futuro pela frente, me deixe escolher, que vocês já estão velhos”. Fez-se o silêncio. Teve quem ficasse magoado. Eu mesma pensei que não deveria ter tocado em um assunto tão delicado: a velhice.

Mas veja bem. Eles escolhem sempre os mesmos e as alegações são das mais estapafúrdias! Aborto, Zé Preto, Erenice, Estatização. A política é velha. Não no sentido de vivida e sim na direção do atraso. Quem ainda agüenta as mesmas caras, que não querem largar o osso. Chupinhas de impostos, distribuidores de propina.

A verdade é que não gosto de ninguém. Maior que o gosto é o desgosto. Mas o sistema está aí, e não vejo outra saída se não entrar no bicho e tentar mudá-lo, matá-lo ou inibi-lo, porque do jeito que está não dá. Uma vez Dilma eleita, que faça a reforma política, para renovar a discussão e nos livrar do martírio que é defender um voto hoje.

07 outubro 2010

Fiz um aborto e ...

Conheço muitas mulheres que já fizeram ou pensaram em fazer um aborto. O aborto é uma questão de consciência e sabemos que nesse sentido, cada um tem a sua. Umas dizem: Graças da Deus que não tive esse filho. Outras dizem: Graças a Deus que tive esse filho. Tem também: Deus, porque não aproveitei aquela ocasião, por que depois nunca mais trepei!

Então, vá para aquele lugar com a polêmica. O aborto já é uma realidade. Tem clinica de aborto no Brasil inteiro. A diferença está, pra variar, no poder aquisitivo. Pobre toma remédio e pode até morrer. Rico, vai na clínica da Vila Mariana, paga dois paus e sai numa boa, podendo escolher a hora em que trará uma criança pro mundo.

Agora, políticos como José Serra ficam incitando esse tipo de debate enquanto deveríamos estar discutindo inclusão social, aumento da renda, trabalho decente, educação de qualidade. O que José Serra quer com isso? Fazer com que as mulheres que fizeram abortos fiquem se remoendo, pensando nos espíritos dos fetos que elas assassinaram? Se liga, seu José. Se quer ser Presidente, vai ter que trabalhar políticas públicas, inclusive para o aborto. A não ser que o senhor não ligue para o fato de mulheres morrerem diariamente ao ingerirem Citotec...

06 outubro 2010

Uma esmola de estudo para a filha de Ana

Por volta das 11h, Ana, que trabalha comigo, recebeu um telefonema informando que sua filha havia ganhado uma bolsa no valor de R$ 180,00 para serem investidos em educação. Ouvi Ana atendendo o telefonema e gastando cerca de 10 minutos em uma conversa onde repassou dados como idade da filha, telefone residencial, escolaridade e hábitos. A ligação caiu e Ana ficou sem saber o que fazer, mas estampou um sorriso no rosto por ter sido brindada pela sorte! Ao mesmo tempo, exibia uma angústia por ter que esperar o telefone tocar novamente. Vendo sua situação, perguntei quem era e o que tinha acontecido e Ana me disse que a Coordenadora da Escola havia ligado perguntando se ela ou a filha não haviam recebido algum correspondência indicando o recebimento da bolsa. Que o valor estaria disponível até amanhã, mas que a ligação havia caído.

Encontrei no celular da Ana o número de origem e retornei a ligação. No 11 3533-9053, uma moça atende. Pergunto da onde fala e a resposta é Projeto Educa São Paulo. Falo que trabalho com a Ana e repasso a ligação. Elas conversam por mais um tempo. Ana pergunta se pode ir na sexta-feira e na sequencia concorda em faltar ao trabalho e comparecer no Colégio Tecnico Mc Internacional amanhã.

Enquanto isso, faço uma busca no Google e encontro referências como Golpe da Microcamp, dívida de 3 mil reais, não acredito que caí nesse golpe... Peço o telefone e começo a questionar a atendente. Peço um site do colégio por ela indicado e ela me passa o da Microcamp. Ligo na Microcamp e me dizem que o Colégio não é da rede credenciada. Pergunto quanto custa o curso no colégio e a atendente diz não saber. Pergunto o telefone do Colégio e ela não passa. Por fim, digo obrigada pela atenção e oriento a Ana a tomar mais cuidado com esse tipo de ligação. Não sei se é golpe, só caindo pra saber, mas os indícios são muito grandes.

Ana ficou cabisbaixa, xingando pelos cantos, com a esperança de ter uma educação melhor para sua filha indo pelo ralo. A escola pública que sua filha frequenta continuará ruim pelos próximos 4 anos, afinal, o povo Paulista prefere acreditar em milagre e reeleger Alckmin governador, do que lutar pela mudança no sistema de ensino estadual. Êta realidade braba...vou me embora daqui e se as coisas caminharem ainda levo Ana...

04 outubro 2010

No segundo turno

Quem ganhou o quê, meu povo?
Eu nada ganho há muito tempo
Mas já ganhei casa caiada,
antena no quintal, piá e enxada.

Hoje teve votação.
Na seção, em Mirorós
Jaques Vagner deixava para trás
o cavaleiro Geddel Vieira Lima!

Em São Bernardo, o metalúrgico Lula.
Votando pela primeira vez em outro umbigo
Dessa vez uma mulher,
Dilma Roussef para presidenta do Brasil.

Mas eu perguntava quem ganhou o quê?
Eu nada ganho há muito tempo
Mas já ganhei a Linha Amarela
Rodoanel, e José Serra por mais um mês.

No Estado mais rico do País,
Geraldo Alckmin passa direto, mas no fio.
Mercadante cresce e a militância
Percebe, tarde, o que deveria

Parece até faroeste, esse Acre,
Tião com Tião, Viana com Bocalom.
Meio a meio, meio fio
Sem tirar nem pôr, entrar ou sair

Como é mesmo, quem ganhou, meu povo?
Eu nada ganho há muito tempo
Por aí até perdi, cabeça e razão
E até respeito se consome em vão.

Regressante, Rio Grande do Sul
Tarso Genro de uma só vez.
No Rio de Janeiro tem Sérgio Cabral
Nem tenho ganas de falar bem ou mal

No Amazonas, Artur Virgilio ficou
Cantarolando na Cohab com Netinho.
Marta Suplicy e Aloizio Nunes se olharam
Frente a frente como quem se olha no espelho

Quem são eles mesmo, que hão de dar ao povo?
Eu nada ganho há muito tempo,
Troco a fumaça pela caatinga
Fico de vez pelo sertão.