Páginas

24 fevereiro 2011

A revolução está na lei


Greenpeace põe no prédio do Congresso uma torre eólica para lembrar aos deputados que a Lei de Renováveis, esperando votação, garante o futuro limpo para o Brasil.

O dia no Congresso Nacional em Brasília começou movimentado. Por volta das 9h ativistas do Greenpeace entraram em ação para pedir que os deputados federais votem o Projeto de Lei de Renováveis, paralisado desde o final de 2009 na Câmara Federal.

Quatro ativistas subiram ao lado da cúpula do Senado Federal para despistar os seguranças. No mesmo momento, um grupo de dez pessoas se organizou ao lado da cúpula da Câmara Federal e “plantou” uma torre eólica inflável de 25 metros, onde se lia a frase “Energia limpa. Voto no futuro”. Por duas horas os ativistas se mantiveram sentados no local. Quatro pessoas ficaram detidas na Sede da Polícia Legislativa do Senado. Dois fotógrafos da imprensa foram agredidos.

A reação intempestiva dos seguranças é um contraponto às intenções do Greenpeace: promover um desenvolvimento limpo e pacífico do país. O Projeto de Lei 630/03, de autoria do deputado Fernando Ferro (PT-PE), mais conhecido como Lei de Renováveis, é considerado a semente de uma revolução energética capaz de garantir o futuro de nosso país.

O texto espera há um ano e meio entrar na pauta de votação. “Que o projeto seja priorizado pelos parlamentares, e que eles compreendam seu potencial para incentivar um setor econômico verdadeiramente verde”, afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace. No final da manhã, após a manifestação, ele protocolou o relatório “Revolução Energética”, estudo que mostra que um novo cenário energético baseado em fontes limpas é possível no Brasil.

A proposta cria um ambiente seguro para encorajar investimentos em geração limpa como eólica, solar, pequenas centrais elétricas (PCHs) e usinas de cogeração a biomassa. Com sua aprovação, o Congresso dará início a um ciclo virtuoso capaz de colocar o Brasil em lugar de ponta no setor de energia do século 21. A Lei de Renováveis aloca subsídios para fontes de geração limpa e assegura a elas prioridade na ligação com a rede de distribuição de energia nacional.

Ela também amplia a quantidade de energia limpa comercializada no país e abre o caminho para a geração descentralizada, prevendo inclusive que brasileiros, individualmente, possam gerar energia em suas próprias casas e jogar o excedente na rede elétrica. Quando aprovada, a lei aumentará o volume de energia limpa na nossa matriz elétrica, empurrando para baixo o custo de geração para os consumidores e colocando o Brasil na vanguarda da luta contra o aquecimento global.

Em nosso país, a queima de combustíveis fósseis para a produção de energia figura entre as principais fontes de gases de efeito estufa. O Brasil está entre os principais responsáveis pelas emissões que ameaçam o clima do planeta. O projeto do deputado Fernando Ferro tira o Brasil do rumo do passado, evitando que continuemos a ligar térmicas a óleo, por exemplo, para suprir nossas necessidades energéticas.

18 fevereiro 2011

Sem-Teto em Preto e Branco

Ocupação de sem-tetos na Cidade São Jorge: Alexandre Bigliazzi registrou com filme em preto e branco
Texto Marina Bastos, do ABCD MAIOR

No primeiro semestre de 2010, mais de 600 famílias, organizadas no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) fizeram uma ocupação no bairro Cidade São Jorge, em Santo André. O terreno, parte particular e parte da Prefeitura, estava abandonado há décadas e a ação foi uma medida para pressionar o Estado a tomar alguma atitude diante do descaso com as famílias sem-teto e realizar uma reforma urbana que contemplasse a população pobre, relegada a locais com as piores condições de moradia.

Na época, a Prefeitura conseguiu liminar de reintegração de posse, mas abriu um canal de diálogo com o movimento para propor soluções de moradia para as famílias que estavam na ocupação, como a bolsa aluguel.

Homens, mulheres, crianças e idosos fizeram de tendas suas casas e do acampamento uma rotina. Diversas situações e trajetórias levaram aquelas pessoas ao mesmo destino, o mesmo terreno. Durante todo esse processo, que durou mais de um mês, o fotógrafo Alexandre Bigliazzi, de Santo André, passou a frequentar a ocupação diariamente.

Munido de uma câmera fotográfica e da companhia de um assistente, passou a registrar, em fotografias em preto e branco, detalhes do dia-a-dia de pessoas que fizeram da vida uma luta. O resultado pode ser conferido na exposição “Ocupações”, que fica até 28 de fevereiro na Câmara Municipal de Santo André (praça IV Centenário, Centro).

Entre cerca de 500 imagens produzidas, Alexandre selecionou 20 que pudessem melhor retratar o que foi a ocupação da Cidade São Jorge e também o que a experiência de frequentá-la o ensinou. “A questão da habitação ainda é secundária na Região, o governo não trata a situação como deveria”, disse, acrescentando que, apesar desta impressão, a exposição não se trata de um protesto. “Aquelas pessoas parecem invisíveis, mas não são, aquilo é uma realidade e eu quis mostrar”, explicou.

Bigliazzi conheceu muita gente e pôde perceber diferenças nos motivos que levaram cada um a estar ali. “Algumas pessoas realmente lutavam por uma causa e estavam dispostas a se organizar, mas também havia quem estava na ocupação para tirar proveito do que os outros conquistavam”, relatou Bigiliazzi.

Serviço
Exposição “Ocupações”
Câmara Municipal de Santo André (praça IV Centenário, sem número)
Até 28 de fevereiro, de segunda a sexta, das 9h às 18h.

17 fevereiro 2011

Você que lê e não sabe - Na Tonga da Mironga do Cabuletê


Clique aqui para assistir ao vídeo

Ano de 1970. Vinícius e Toquinho voltam da Itália onde haviam acabado de inaugurar a parceria com o disco "A Arca de Noé", fruto de um velho livro que o poetinha fizera para seu filho Pedro, quando este ainda era menino. Encontram o Brasil em pleno "milagre econômico". A censura em alta, a Bossa em baixa.
Opositores ao regime pagando com a liberdade e a vida o preço de seus ideais.
O poeta é visto como comunista pela cegueira militar e ultrapassado pela intelectualidade militante, que pejorativa e injustamente classifica sua música de easy music. No teatro Castro Alves, em Salvador, é apresentada ao Brasil a nova parceria.
Vinícius está casado com a atriz baiana Gesse Gessy, uma das maiores paixões de sua vida, que o aproximaria do candomblé, apresentando-o à Mãe Menininha do Gantois.
Sentindo a angústia do companheiro, Gesse o diverte, ensinando-lhe xingamentos em Nagô, entre eles "tonga da mironga do cabuletê", que significa "o pêlo do cu da mãe".
O mote anal e seu sentimento em relação aos homens de verde oliva inspiram o poeta. Com Toquinho, Vinícius compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves.
Era a oportunidade de xingar os militares sem que eles compreendessem a ofensa.
E o poeta ainda se divertia com tudo isso: "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô".

Fonte: Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão; uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

11 fevereiro 2011

Balé soteropolitano à Flor da Pele



Está em cartaz, no Sesc Vila Mariana, a Companhia de Dança soteropolitana Balé Teatro Castro Alves. O espetáculo aposta no despertar da sensibilidade e revela processos de mudança pelos quais homens e mulheres passam durante a vida.

Fui ontem assistir “À Flor da Pele” e encontrei um teatro com muitos lugares vazios, que mereciam estar preenchidos. Foi muito bom.

No início do espetáculo acontece uma interação com o público. Minha mãe recebeu um abraço de um bailarino, enquanto o Vinicius tinha seus chinelos Havaianas levados para o palco, sob a frase “empresta-me teus pés e te devolvo no fim do espetáculo.”

Na uma hora e vinte minutos de dança, muito movimento, expressão, respiração e entrega. Chuva de areia, ilusão de ótica, sustos e risadas.

Ainda dá tempo. Hoje tem de novo À Flor da Pele, às 21h.
Sábado, às 21h e domingo, às 18h, da mesma Companhia, A Quem Possa Interessar.


“À FLOR DA PELE” – Coreografia Ismael Ivo, direção artística Jorge Vermelho. O espetáculo tem como proposta utilizar o corpo como um passaporte e como um documento do tempo atual, identificador de momentos importantes de mudanças. Qual o fato ou situação na vida de cada um, onde você se depara num beco sem saída? Qual o evento mais marcante onde a vida de cada um dá uma guinada? Para o bem ou mal, somos forçados a rever coisas, mudar, transformar, fazer metamorfoses. O que faz você ser o que você é está escrito no seu corpo. Um corpo que em face de reconhecer sua existência e condição mortal usa a arte da dança para deixar uma mensagem e dança uma batalha para deixar marcas profundas.

“A QUEM POSSA INTERESSAR” – Coreografia Henrique Rodovalho, direção artística Quasar Cia de Dança, de Goiás. O espetáculo foi construído a partir de um trabalho coletivo em que os próprios bailarinos foram incitados a resgatar suas trajetórias e experiências, sobre o bem estar, o prazer e a alegria, elementos que devemos apreciar e sentir aqui e agora.

Serviço: Sesc Vila Mariana - Rua Pelotas, 141 – Estacionamento no local
Telefone: 11 5080-3000
Os ingressos custam R$ 24, (inteira), R$ 12, (usuário matriculado no SESC e dependentes, idosos e professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante) e R$ 6, (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).

09 fevereiro 2011

Entre os muros da academia

Um dos principais desafios do governo é o de tampar o fosso entre universidades e indústria



Os números da pesquisa científica nacional surpreendem. Entre 2000 e 2009, o volume de publicações aumentou 205%, atingindo o montante de 32 mil artigos
indexados no National Science Indicators (NSI) Thomson Reuters. Em 2008, o
País assumiu a 13ª colocação no ranking NSI, ficando à frente de potências
em ciência e tecnologia, como Rússia e Holanda, tornando-se responsável por
2,69% da produção científica mundial.
Ainda assim, há um consenso sobre a falta de diálogo entre a indústria e a
universidade e essa lacuna deve se colocar como um dos principais desafios do
governo atual, no que tange à educação. Não se trata apenas de investimentos, mas
de direcionar acordos entre atores com diferentes perspectivas. Para o pró-reitor de
Pós-graduação da UFABC, Carlos Kamiesnki, já existe uma compreensão no meio
acadêmico, político e empresarial de que o Brasil precisa acelerar o processo de
transmissão de conhecimento para o setor produtivo a fim de gerar inovação.
Ainda em 2010, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), anunciou o incremento de mais duas mil bolsas de formação. No total, são
cerca de 93 mil bolsas, apoiando desde a iniciação científica até pesquisadores
altamente qualificados. “O aumento no número de bolsas é significativo e as
agências de fomento privilegiam propostas de parcerias com o setor produtivo.
Mas um avanço real deve ser alcançado a partir da implantação das diretrizes para
políticas públicas que estão sendo colocadas no Plano Nacional de Pós-Graduação
(PNPG) 2011-2020 e no Livro Azul da 4ª Conferência Nacional de Ciência
Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável”, analisa Kamienski.
Dentro da universidade, o pedido da indústria, de estimular a cultura da inovação
para criar competitividade, começa a ganhar espaço e forma. A UFABC acaba de
criar o Núcleo de Inovação Tecnológica, com foco no desenvolvimento de projetos
de inovação tecnológica e científica.
Para o pró-reitor de pesquisa da UFABC, Klaus Capelle, outro fator determinante
para a aproximação dessas duas esferas sociais foi a criação das leis do Bem
e de Inovação, mas ainda existem desafios a serem superados no campo legal.
“Essas leis tem facilitado atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação no
Brasil, mas ainda há muitos entraves burocráticos. Por exemplo, a importação de
equipamentos e insumos para pesquisa precisa ser facilitada.”

Esse texto compõe a matéria de capa da INOVABCD de fevereiro. Para ler a matéria clique aqui

03 fevereiro 2011

Egito: lições da história Persa

O Ditador do Egito, Mubarak, aprendeu com a história

A prova de proficiência em língua estrangeira, aplicada hoje aos alunos que concorrem a uma vaga no curso de pós-graduação da EACH-USP, pediu aos candidatos que traduzissem um texto sobre a situação do Egito hoje e as experiências da Europa ontem.

Em busca do texto e de verificar o potencial do meu espanhol, percebi que fiz uma boa tradução, mas esqueci de traduzir o título. Ai, que merda. Porém, como meus erros são ínfimos perto da gravidade da situação do Egito, decidi traduzir o texto de novo, para compartilhar esse novo e bem vindo conhecimento.

JAVIER MARTÍN - Egipto: Lecciones de historia persa, do El Pais
No final de 1979, uma constelação de grupos diversos tomou as ruas do Irã aos gritos de "liberdade" e "Morte ao ditador". Reunidos em torno de uma ligação única – o Indigesto - representavam todo o espectro da sociedade: ombro a ombro marcharam comunistas, socialistas, democratas, sindicalistas, intelectuais, moderados e radicais islâmicos ... Todos igualmente cansados da arbitrariedade de um rei que, sob uma fino verniz de democracia, desperdiçou o tesouro nacional, alheio às misérias e preocupações de seu povo, mantendo um serviço de inteligência brutal e repressivo. Mas, para além do ódio comum, cada grupo possuía uma esperança diferente sobre o futuro. Abençoado pelo Ocidente, o protesto cresceu e o rei assustado, abandonado até mesmo pelos seu poderoso Exército, empilhou em baús sua fortuna, ligou o ar condicionado de seu luxuoso avião e, acompanhado por seus amigos mais próximos, partiu para o exílio no Egito.

Trinta e dois anos mais tarde, as ruas da cidade onde o mal fadado Sha descança em paz, fervem com os ecos de um passado que não está tão longe. Estimulado pelo vôo recente para a Tunísia, de outro ditador com pele democrata, centenas de milhares de egípcios lotam praças e ruas exigindo o fim da ditadura de Hosni Mubarak, à data "aceita" pelo Ocidente. Como naquele ontem ainda próximo, socialistas, sindicalistas, apolíticos, democratas, intelectuais, laicos e religiosos radicais e moderados, uniram-se em um objetivo comum: a queda do ditador, que os empobreceu, confiante na sua posição de "aliado indispensável" para a segurança na região.

Este hoje e o ontem são diferentes. O Egito, que arde no amanhecer do século XXI não é Irã dos últimos suspiros do século passado. Nem a diversidade cultural, histórica e religiosa é comparável, embora ambas sejam nações muçulmanas. Mesmo a situação internacional é outra. A cortina de ferro desapareceu e os atores globais fazem parte de outra tragicomédia. Mas vale a pena recordar a passagem e os resultados da revolução iraniana antes de deixar os fantasmas no passado. Como, então, os islamitas, melhor estruturados, decidiram lutar no pano de fundo. A Irmandade Muçulmana, tradicionalmente a mais importante força de oposição, ficou por trás da imagem "amável” de Mohamad Baradai, Prêmio Nobel da Paz e um homem de prestígio internacional. É verdade, que no Irã é agora considerada uma figura emblemática o aiatolá Ruhollah Khomeini, que revigorou e, eventualmente, aproveitou o protesto, mas a princípio os iranianos religiosos também lhe deram seu papel. Na transição, e as costas aclamado clérigo em Teerã, a tarefa de formar o primeiro governo revolucionário coube a um leigo, Mehdi Bazargan, candidato de Jomeini contra as ambições do ex-primeiro-ministro Sha, Shapour Bakhtiar. Apenas sete meses depois, com os islamistas escalando para todos os ramos do Estado, Bazargan renunciou e passou o poder a um Comitê Revolucionário, que prontamente estabeleceu o atual regime teocrático.

A história nunca se repete, mas ao longo dos séculos encontramos patrões semelhantes. Mubarak, que viu a barba de seu vizinho cair, no terremoto político da Tunísia, parece ter-se preparado para resposta: a indicação de Omar Suleiman como vice-presidente, cargo vago desde que Mubarak o deixou em 1981 para tomar o poder. O ex-chefe dos serviços secretos é um homem de prestígio no seio das forças de segurança e do exército, capaz de controlar e evitar a deserção que precipitou tanto o colapso de Sha e a fuga de Ben Ali, e garantir estabilidade rápida ansiada pelo Ocidente, em uma área de alto valor estratégico. Também para o poderoso vizinho Israel, que o conhece bem. Não por acaso ele era o enviado especial do presidente egípcio para assuntos palestinos. Além disso, há mais de cinco anos saindo do anonimato, pesou-se várias vezes em Suleiman como eventual sucessor. Hoje, apenas ensombrado pela aspiração do filho de Mubarak, Gamal.

Para resolver a equação, precisamos saber se as pessoas estão dispostas a aceitar a transferência de poder para Suleiman e quanto o povo está disposto a resistir nas ruas. E também, qual o caminho que escolhem os islamitas. Se, como diz o líder tunisino Rashid Ghanuchi "Eu não sou Khomeini”, for favorecido um aspecto mais abrangente, semelhante ao encontrado na Turquia. Não há dúvida de que, em um processo democrático com todas as garantias, a melhor estrutura iria recompensá-lo com o apoio popular suficiente para a imposição de algumas de suas condições, como no Líbano com o grupo xiita Hezbollah. É também um teste para os EUA e Europa, que aspiram a não repetir os erros, os governos devem aceitar a influência islâmica ... Se essa for a vontade dos povos árabes nas