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11 setembro 2011

Benetazzo, refém da Ditadura Militar, é libertado em Caraguatatuba



Na noite de sexta-feira, 09 de setembro de 2011, um grupo de jovens de Caraguatatuba, orientados pela professora Rose, driblou o sequestro de nossa memória, operado pelos militares e pelo governo federal, desde a década de 1960. A libertação solitária do refém Antonio Benetazzo, antes enclausurado junto a milhares de jovens brasileiros assassinados durante os anos de chumbo no Brasil, representa a inquietude de uma geração consciente de que a história cuidadosamente selecionada para compor um passado inventado, já não basta para explicar os novos sentimentos. Neste seleto passado, não há nenhum sentido, tampouco uma explicação para as novas cargas.

Parecia tudo tão distante, desconexo. Enquanto o governo debate a abertura ou não dos arquivos da ditadura, negociando com assassinos, veio a juventude e revelou sorrateiramente quem foi Benetazzo. Artista, professor, filósofo, militante, profunda inspiração. Eu, testemunha, pude descobrir esse herói calado a força e me vieram lágrimas, sorrisos, grandes contradições e um despertar de novos e velhos sentimentos, uma vontade imensa de correr contra o tempo, abrir os baús de memórias esquecidos em sótãos alheios, fechados por chaves enferrujadas de passado.

Quantos companheiros e companheiras de Benetazzo ainda não tiveram suas memórias contadas? E quantos irmãos, filhos, sobrinhos, não sabem o que foi o seu passado? O futuro não desaparece com a história, mas a multiplica.

E foi assim que somei às minhas referências, onde estão pai, mãe, Guevara e Fidel, a professora Rose, os alunos do Thomaz e Benetazzo, que resgataram uma parte de minha história, apartada de mim e com um imenso significado. Esses novos heróis construíram uma polida peça, para o imenso quebra-cabeças que é a história dos homens.

- No dia 09 de setembro de 2011, o Coletivo Memória Contada, criado em agosto de 2010, entregou ao Arquivo Público Municipal de Caraguatatuba, um dossiê sobre o militante Antônio Benetazzo, assassinado a pedradas, por instrumentos da ditadura militar, aos 31 anos. Em uma sessão na Câmara de Vereadores, com casa cheia, foi revelada a breve história de um homem cheio de generosidade, inteligência e coragem, que contagiou a juventude de sua época e que, até hoje, continua contagiando.


Xilogravura de Claudio Tozzi e Antonio Benetazzo, feita para a UNE em 1968