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14 abril 2010

Para quem acha que consumir dá prazer, apresento-lhes a angústia!

Meu pai está preocupado porque já percebeu minha dificuldade de adaptação ao modelo de vida urbano, no que diz respeito às relações de trabalho, ao sistema capitalista, ao modo de consumo que temos que engolir no dia-a-dia.

Ontem fomos à feira juntos e no caminho ele dizia que gente como a gente, muito crítica ao consumo, tem uma grande tendência a se decepcionar. Citou uma reflexão de Maria Rita Kell, com relação às sensações de vazio e angústia. Na hora eu disse que não sentia nenhuma dessas coisas.

Mas, hoje eu vi que era angústia. Eu odeio consumir. EU ODEIO CONSUMIR. Não sei consumir, nem engolir termos e cláusulas. Não sei ficar quieta. Fico magoada. Eu odeio consumir. Consumir me deixa triste toda hora. A história a seguir ilustra bem minha relação com o consumo. Nada de mais, acontece toda hora, faz parte do que o consumo proporciona.

Há um mês, roubaram meu celular. Fiquei um tempo livre do rastreamento via satélite, tranqüila e feliz, até que percebi que pra quem procura emprego, ficar sem celular pode atrapalhar. No dia sete de abril – semana passada – fui até a loja da Oi, no Shopping Santa Cruz, comprar um aparelho e transferir minha linha que era da Vivo. A vendedora me atendeu sorridente, ofereceu mil ofertas para quem trazia o número de outra operadora. Escolhi um aparelho, um plano e pronto!

Pronto nada, portabilidade só daqui três dias. Tudo bem, eu subo na loja da Vivo, compro um chip e nesses três dias fico com a linha Vivo. Como ambos os atendimentos demoraram muito, tive que optar por ou comprar o aparelho na Oi, ou o chip da Vivo. A vendedora da Oi apareceu lá na loja da Vivo para me expor a falta de tempo. Optei por já comprar o aparelho e deixar o chip pro dia seguinte.

No dia seguinte, comprei o chip e... ops, não funciona. A vendedora me vendeu um aparelho desbloqueado, mas que não funciona com chip Vivo. Ela não sabia? Ela foi me buscar dentro da loja da Vivo pra me dizer que tinha que finalizar a compra. Ela sabia.

Tudo bem. Mais três dias sem celular me atrapalha, mas não mata. Sábado o celular começou a funcionar e segunda-feira... puf! Quebrou, o visor não funciona. Hoje fui até a loja onde fiz a compra. Procurei Fátima, a vendedora, que já não estava simpática e me disse: sinto muito, não podemos fazer nada! Só temos 24h para troca. Eu argumentei dizendo que nas 24h o celular nem foi ligado porque ela fez uma venda errada. Sinto muito me disse a gerente, que nem me orientar a procurar assistência técnica fez.

Sai da loja, sentei em um banco e cada vez que aparecia um cliente na vitrine eu aparecia ao seu lado e lhe explicava a minha situação, pedia licença, falava em tom calmo e ia embora. Tinha gente que escutava e gente que ignorava. E teve uma senhora que ficou muito feliz de ver alguém lutando por seus direitos.

A loja chamou a segurança, eu argumentei dizendo que ninguém havia reclamado, que eu estava ali como consumidora do shopping. Dei uma volta pra desencanar do assunto e voltei. A segurança não podia fazer nada. Abordei mais duas pessoas. E então, um vendedor, o Antonio, saiu bufante da loja, gritando, me mandando ir embora. Virei as costas e sentei novamente nos bancos próximos à loja. Vi que ele chamava novamente o segurança e me dirigi a eles. Me expliquei e eles me orientaram a denunciar o atendente, ainda bufante. Voltei pra casa pra me informar como proceder no Procon, acompanhada da angústia, que acompanha aqueles que querem mudar as coisas, mas não sabem como.

É isso aí, quem acha que consumir dá prazer, apresento-lhes a angústia! A mesma angústia que aparece quando jogo meus quilos de lixo, fruto do consumo desenfreado, numa lixeira cujo destino é a natureza. Essa angustia está em tantos lugares, é só começar a prestar atenção.

Um comentário:

  1. Cara! E é o mesmo com as instituições bancárias. Elas te travam, te obrigam a precisar delas e sempre, SEMPRE, te fodem.

    Adorei este.

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