Páginas

25 novembro 2011

Estudantes da USP: essas bundas que ocupam vagas!


Imagem retirada do vídeo intitulado "Passeata Vagabunda e Maconheira"

Ora pois, não serão vagabundos esses estudantes da USP? Ou então, serão mesmo bundas que ocupam vagas, que não assentam todo mundo. Há muitas bundas vagando por aí. Essas vagas para essas bundas que saem caminhando pela Avenida Paulista têm um custo muito grande. E todo custo é valor, que alguém quer ter, mas não quer custear.

Na aula pública de democracia apresentaram-se os estudantes e educadores da USP, de outras faculdades e entidades daqui e de lá, do outro lado do continente, do oceano, do velho mundo.

Chegaram de suas casas, de seus trabalhos e de uma caminhada pela Avenida Paulista, expressão dessa nossa sociedade volátil. Em passeata, pessoas que enfrentam as realidades da pobreza e das desigualdades sociais, em suas vidas, ou trabalhos com o governo, empresas e grupos. Essas pessoas também estudam. As pessoas na passeata só não são artistas da televisão.

Esse bando de acadêmicos vagabundos da USP, trabalha e estuda muito, e como todo o mundo urbano, se conecta cada vez mais. É muito conhecimento compartilhado e em uma velocidade acelerada na interação multifacetada do universo da pesquisa. E todo conhecimentos é valor. Quanto custa à sociedade esse conhecimento? À sociedade não tem preço. O que lhe confere o preço é o mercado, que precisa, desesperadamente, lucrar com essas vagas, com essas bundas.

É isso que reflito sobre a Marcha Continental pela Educação, vendo a coisa daqui do Brasil, onde os gritos são o sim pela democracia e o não para a repressão.

25 outubro 2011

Mariguella: pegue a sua arma e vá mudar o mundo



Quando o filme acabou e o rap de Mano Brown começou, aproveitei a deixa pra ficar em silêncio. Na minha cabeça veio a vontade de dar um grito, um UHA, de levantar e bater palmas emocionadamente. Mas a trilha me calou, já tinha uma voz ali cantando por Mariguella.

O baiano Carlos Mariguella apresentado por Isa Grispum, sobrinha do preto, é antes de tudo um dos seres mais humanos de quem tive conhecimento. O retrato organizado por Isa revela um sujeito que de sua cadeira acadêmica olhava pela janela e não se conformava em ver crianças trabalhando para comer, enquanto ele engordava a bunda num mundo diferente da realidade ao seu redor.

Impressionantemente informativo, o roteiro me fez pensar nas armas que arrebentam cabeças que ousam pensar diferente do que o sistema quer que se pense. Mariguella foi assassinado por uma arma financiada por nós mesmos, comprada com o dinheiro que entregamos ao Estado.

Esse poder de matar, que entregamos de mãos beijadas e nos enfia o cano na cabeça a qualquer revelia, me faz entender porque Mariguella passou a acreditar que apenas armado o movimento revolucionário poderia sustentar a inversão do jogo.

Eu não quero uma arma pra apontar pra sua cabeça que pensa diferente da minha. Eu não quero uma arma, enquanto ninguém tiver uma arma. Do contrário, como faço pra não ficar refém de meu próprio Estado, globalizado por impérios disfarçados de monumentos da liberdade? Mais do que qualquer liberdade, eu quero a paz, mas em meio a tantas guerras, com qual arma eu me protejo e com que escudo eu me lanço pra virar o jogo? Salve Mariguella!




O filme Mariguella está na 35a Mostra Internacional de Cinema
Pra quem quer ver, ainda tem seção:
26/10/2011 18h20 - ESPAÇO UNIBANCO AUGUSTA
31/10/2011 16h30 - CINE SABESP
03/11/2011 15h30 - UNIBANCO ARTEPLEX - Shopping Frei Caneca

13 outubro 2011

Santo Daime - Patrimônio Cultural Nacional


O que se espera de um Mistério da Cultura é que este colabore com a preservação de manifestações culturais em todo o território nacional. Assim, pela primeira vez, baixo a guarda com relação a atuação da ministra Ana de Hollanda, que agora dá continuidade ao diálogo do ex-ministro Gilberto Gil com a comunidade ayahuasqueira. No jornal O Estado de São Paulo de hoje, caçando à pinça alguma notícia que preste, encontrei na coluna de Sonia Racy a seguinte nota:

“Ana de Hollanda dá um passo para alçar a Patrimônio Cultural Nacional o uso da ayuasca em rituais no Acre. O MinC está contratando, via licitação, estudo preliminar para o Inventário Nacional de Referências Culturais”, metodologia criada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para o registro dos saberes considerados patrimônio cultural imaterial.

O texto do edital diz que o inventário “objetivará fortalecer as comunidades ayahuasqueiras na superação de intolerância religiosa, pois o conhecimento incidirá sobre pontos cruciais dos equívocos difundidos pelos meios de comunicação de massa”. Vê-se, então, o patrimônio sendo atrelado a uma de suas mais nobres características, o uso social.

Em maio de 2008, Gil recebeu, para encaminhamento ao Iphan, o pedido assinado por representantes de doutrinas ayahuasqueiras para transformar o chá de ayahuasca, feito a partir do cipó de mariri e das folhas de chacrona e usado em rituais do Santo Daime, em patrimônio imaterial da cultura brasileira.

11 setembro 2011

Benetazzo, refém da Ditadura Militar, é libertado em Caraguatatuba



Na noite de sexta-feira, 09 de setembro de 2011, um grupo de jovens de Caraguatatuba, orientados pela professora Rose, driblou o sequestro de nossa memória, operado pelos militares e pelo governo federal, desde a década de 1960. A libertação solitária do refém Antonio Benetazzo, antes enclausurado junto a milhares de jovens brasileiros assassinados durante os anos de chumbo no Brasil, representa a inquietude de uma geração consciente de que a história cuidadosamente selecionada para compor um passado inventado, já não basta para explicar os novos sentimentos. Neste seleto passado, não há nenhum sentido, tampouco uma explicação para as novas cargas.

Parecia tudo tão distante, desconexo. Enquanto o governo debate a abertura ou não dos arquivos da ditadura, negociando com assassinos, veio a juventude e revelou sorrateiramente quem foi Benetazzo. Artista, professor, filósofo, militante, profunda inspiração. Eu, testemunha, pude descobrir esse herói calado a força e me vieram lágrimas, sorrisos, grandes contradições e um despertar de novos e velhos sentimentos, uma vontade imensa de correr contra o tempo, abrir os baús de memórias esquecidos em sótãos alheios, fechados por chaves enferrujadas de passado.

Quantos companheiros e companheiras de Benetazzo ainda não tiveram suas memórias contadas? E quantos irmãos, filhos, sobrinhos, não sabem o que foi o seu passado? O futuro não desaparece com a história, mas a multiplica.

E foi assim que somei às minhas referências, onde estão pai, mãe, Guevara e Fidel, a professora Rose, os alunos do Thomaz e Benetazzo, que resgataram uma parte de minha história, apartada de mim e com um imenso significado. Esses novos heróis construíram uma polida peça, para o imenso quebra-cabeças que é a história dos homens.

- No dia 09 de setembro de 2011, o Coletivo Memória Contada, criado em agosto de 2010, entregou ao Arquivo Público Municipal de Caraguatatuba, um dossiê sobre o militante Antônio Benetazzo, assassinado a pedradas, por instrumentos da ditadura militar, aos 31 anos. Em uma sessão na Câmara de Vereadores, com casa cheia, foi revelada a breve história de um homem cheio de generosidade, inteligência e coragem, que contagiou a juventude de sua época e que, até hoje, continua contagiando.


Xilogravura de Claudio Tozzi e Antonio Benetazzo, feita para a UNE em 1968

01 julho 2011

Notícias de Pulo do Bode





Escrevo de Pulo do Bode, hoje conhecido como povoado Mirorós, distrito de Ibipeba, na Chapada Diamantina Setentrional.

Nessa semana que passou fiquei por aqui pisando pelas ruas do passado, criando calo no meu pé caminhador!Descobri agorinha pouco que esse povoado, um dia, se chamou Pulo do Bode, e que o verdadeiro Mirorós, ficava do outro lado do rio que secou, onde tem o cemitério abandonado.

Quem me contou foi a centenária dona Josefa. Nascida em 1911, ela viu com seus olhinhos tudo o que passou aqui. Das grandes platações de arroz vermelho, até a seca do rio.

E foi seu Wanderlino, genro de dona Josefa, que tem "por volta de 80 anos", quem me falou que antes aqui se se colhiam as melhores sementes de feijão de toda a Bahia. Entre uma cusparrada e outra, ele desfiava o fumo, tragado desde os dez anos de idade, enquanto via Marcolino Forte comandar a região.

É muita história. E é muito triste ver o rio seco. Nem tive coragem de ir ver a barragem. Mas não é que ontem e hoje vi cair do céu umas gotinhas, chuva pouca, mas que já foi capaz de levantar o cheiro delicioso de ervas do sertão.

Deve de ser São Pedro!

02 junho 2011

En el alto

Mirá!
No hay perfección.
Lo que quieres
tiene que ser
lo más lejos
del imperfeto
És una relacción
Así u así

25 maio 2011

Mesmo que distante...


Acontece a todo instante
Mesmo que distante...
O que passa há meia-hora
Não é mais agora
Todo tempo que eu passo
Passo num segundo
Pra chegar no teu abraço...
No momento em que te tenho
Eu entro no teu mundo
E me transformo em pele tua
É isso a todo instante
Todo tempo que eu passo
Passo num segundo
Pra chegar no teu abraço...
Acontece a todo mundo
Passa a todo instante
Mesmo que distante...

13 maio 2011

Em uma casa no sertão



Foto Vinicius Morende


De onde eram aqueles textos? Aqueles que descrevi em cartas.
Estou sentada no sofá de casa...

Estou sentada no sofá de casa. Olho pra frente. A TV está ligada na Globo. Brasil e Argentina empatam em zero a zero e já é quase o fim do primeiro tempo. A TV fica em cima de uma caixa plástica amarela. Dessas usadas para carregar frutas. Olho para a parede atrás da TV. O mural de textos chama muito a minha atenção. Foi Vinicius quem montou. Ele é lindo. É intenso e cheio de significados. Um texto do Capital fica bem em cima. Tem também, no canto superior direito, uma fotografia daquele bidê que ganhou um prêmio de arquitetura. O juiz apita o fim dos primeiros quarenta e cinco minutos. Eu queria estar escutando Amadou Et Mariam.

Um pouco abaixo da fotografia do bidê, a única da instalação, tem um trecho de Morte e Vida Severina e um pouco mais ao centro, Viva o Povo Brasileiro. O Vi pegou esses textos em uma exposição em São Paulo. Estão todos impressos em papel daqueles de pacote de pão. Marrom. São todos do mesmo tamanho. Alguns têm a fonte pequena. Outras gritam, como 234, EinStEn e LITERATURA E HUMANISMO. Além disso, eles se misturam entre horizontais e verticais. O Vi montou esse mural na parede que fica atrás da TV. A caixa preta quase desaparece quando olho para os textos, mesmo estando na frente deles.

A parede do mural foi a mais difícil de pintar, das cinco que pintamos. Metade dela está verde e o meio tem uma parte branca, mas o mural cobre quase toda a falha. Mas ficou legal. Tem seu significado. É que acabou a tinta.

Estou sozinha em casa. A casa é tão grande. Tem a sala, a cozinha, dois banheiros, quatro quartos, a área de serviço, a varanda e um quintal com goiabeiras e pinheiras. Consigo ocupar todos os espaços com meus pensamentos, poucos móveis e alguns objetos.

Na sala ainda tem um tapete de palha entre a TV e o sofá. Na parede oposta ao mural tem uma janela que pintei de verde água. Acho a parede mais bonita da casa. Hoje. Antes era a mais feia. Quando a janela está aberta consigo ver o pé de umbu e a serra lá atrás. A cor do céu sempre fica bonita nesse ângulo e quando o Sol está se pondo a visão chega a seu auge. O laranja muda a cor do cerrado. As árvores ficam amarelas, vivas. Contrastam com a cor da terra seca, amarela fosca.

Meu sofá também é legal. É um incrível sofá retrô. Herança das intalações montadas para abrigar os engenheiros e funcionários que construíram a barragem, na década de 1980. Hoje sou eu quem está sentada no sofá. Vinte e quatro anos depois da construção da barragem. Vinte e quatro anos depois de minha mãe me deixar sair de sua barriga e pular para o mundo. Curiosa, ansiosa por saber como eu seria. Como eu me transformaria. Como eu escolheria me constituir e evoluir.

---

07 maio 2011

Bin Laden a la João Bosco

Dê frente pro crime

Cadê o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...

25 abril 2011

Para Lula, PT deve priorizar ABCD



Foto: Andris Bovo
Entrevista: Karen Marchetti e Júlio Gardesani (pauta@abcdmaior.com.br)

Em entrevista ao ABCD Maior, Lula diz que ministra Miriam Belchior não deve deixar o governo federal para disputar eleição

Um dia após ter participado de uma reunião da direção do PT paulista para discutir as proridades nas eleições municipais de 2012, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu entrevista exclusiva ao ABCD MAIOR e afirmou que o partido deve se empenhar em fortalecer a legenda na Região. Na entrevista, a primeira a um jornal impresso brasileiro após o final de seu mandato, Lula adverte que os petistas de Santo André devem evitar as prévias para definir o candidato a prefeito, nome que deve ser consenso.

ABCD MAIOR - O senhor se dispôs a conversar com os partidos sobre a reforma política. Quais os principais itens da reforma, na sua avaliação?

Luiz Inácio Lula da Silva - Primeiro: a reforma política é importante para dar mais seriedade aos partidos políticos, ainda mais num País que conta com muitos partidos e por isso acabamos sendo obrigados a construir alianças políticas. É importante que as direções partidárias tenham autoridade para fazer as negociações. Não se pode negociar com a direção do partido, e os deputados, prefeitos e vereadores dizerem depois que não fizeram parte dessa negociação. Quando se faz uma negociação com um partido é um tratado que deve ser cumprido. A segunda coisa é o financiamento público de campanha. Muitos acham que o financiamento público vai significar mais impostos. Só que na verdade é o contrário. O financiamento público significará a moralização da política brasileira. Vai acabar com a relação promíscua entre o candidato, o partido e o empresário. Ficará melhor, mais barato, e o Estado garantirá uma determinada quantia por eleitor, distribuídos entre os partidos em função das votações passadas. Mas, em contrapartida, as legendas deverão fazer a lista fechada, a ser votada democraticamente. O que eu penso é que, se o Brasil não fizer esta reforma, nunca acabaremos com a corrupção e, em época de eleição, continuará existindo o caixa dois. O ideal é termos a constituinte para fazer a reforma política, já que os deputados têm o interesse neste debate. De qualquer forma, é o que temos e acredito que o Congresso tem disposição para avançar. Mesmo assim, não deverá haver uma grande reforma, mas, ainda assim, teremos avanços importantes, como por exemplo a votação em lista, onde o eleitor poderá votar numa lista inteira e depois escolher um candidato. Para isso vamos precisar conversar com os partidos políticos, movimentos sindicais e sociais, para que possamos transformar a reforma política numa coisa de interesse nacional.

ABCD MAIOR - Como o senhor citou, alguns pontos são polêmicos, como a votação em lista e financiamento público. Muitos acreditam que o financiamento não acabará com o caixa dois. Qual sua avaliação?

Lula - Veja, se tornarmos proibitiva, a contribuição privada passa a ser crime. O que não pode é termos o financiamento público e também querer combinar com a iniciativa privada. Por isso, é preciso acabar de uma vez por todas com o financiamento privado. Se o político pegar dinheiro, estará cometendo um crime. Tem muito chão pela frente e se não mudarmos vamos continuar com os partidos fragilizados.

ABCD MAIOR - Junto com a reforma podemos também discutir a verticalização das coligações. No ABCD, por exemplo, em São Bernardo e Santo André, alguns partidos que estão na base nacional do PT não caminham com a legenda, como é o caso do PSB e do PMDB. Como o PT irá trabalhar para tentar reeditar a aliança nacional nas cidades?

Lula - Tem municípios que nem se o papa se reunir com os políticos as coisas vão mudar. O importante é que cada companheiro precisa ter a clareza que é mais difícil governar do que ganhar eleição. Para governar é preciso compor e ter um leque de apoio que passe na Câmara e na sociedade. Estou convencido de que o Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo, é um bom exemplo disso. Nós elegemos o Maurício Soares (PT) em 1988 (atual secretário de Governo de São Bernardo) e depois dele nunca mais conseguimos eleger outro prefeito do PT. Ou seja, toda eleição tínhamos mais de 20 partidos contra e o PT saía sozinho. O Marinho conseguiu trazer uma aliança política e reuniu mais de 300 candidatos a vereador, o que permitiu a vitória em 2008.

ABCD MAIOR - E nas demais cidades da Região, como o senhor avalia a composição política?

Lula - De Diadema eu nem falo nada, pois temos uma história forte na cidade. Em Diadema, quando nós perdíamos, perdíamos para nós mesmos. Agora, em Santo André, é preciso fazer uma analise. Em Santo André perdemos a eleição por problemas internos. Era muito difícil o PT perder aquela disputa (eleição de 2008), mas perdeu. O partido precisa ter humildade para compreender e entender que erramos e temos que nos recuperar.

ABCD MAIOR - Durante reunião com prefeitos do Estado de São Paulo e lideranças do PT, nesta semana, o senhor falou da importância de recuperar Santo André. O senhor acredita que o partido deverá evitar prévias na cidade. Quem será o candidato?

Lula - Em 1991 eu propus a prévia no PT para resolvermos problemas de conflitos entre as tendências, mas as prévias viraram uma guerra. Muita gente vai para disputa interna e quando perde não faz campanha para quem ganhou. Foi uma coisa boa, que se tornou, em alguns casos, prejudicial. No caso de Santo André, teríamos uma candidata nata, se ela não fosse escolhida antes pela presidente Dilma Rousseff (PT): a ministra de Planejamento, Miriam Belchior. Acredito que Miriam não pode largar o ministério para ser candidata em Santo André, pois já prestou e está prestando um importante serviço ao Brasil. No entanto, o PT tem quadros importantes em Santo André, mas é preciso fazer uma avaliação da coalizão de forças dos possíveis aliados. É uma questão de bom senso. É como se tivéssemos que tomar um cafezinho no bar, mas só com uma xícara para três companheiros. O cidadão mais humilde prefere não tomar ou repartir com os companheiros. No PT nós precisamos fazer isso, ninguém pode ser candidato só porque quer ser. Temos de permitir que outras pessoas possam dizer quem é o melhor, e o escolhido tem de ter o apoio de todo mundo. Mas não é apenas em Santo André. O PT precisa trabalhar muito para conquistar São Caetano e ter um partido forte em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires. Em Mauá, precisamos reforçar a necessidade de manter o partido na Administração.

ABCD MAIOR - O senhor fará a articulação na Região para que o PT conquiste a mesma coligação editada para Dilma Rousseff (PT) em 2012? Qual será sua participação nas campanhas eleitorais?

Lula - Posso garantir, antecipadamente, inclusive sem falar antes com o Michel Temer (vice-presidente da República), que o PMDB desta vez terá o PT como aliado principal em todos os municípios. Conversei com o presidente estadual do PMDB, o deputado Baleia Rossi, que me garantiu que a preferência de aliança é com o PT. Participarei da eleição municipal, mas tenho cerca de 8,5 milhões de quilômetros para percorrer. Obviamente que vamos precisar ter uma escala de prioridades e o ABCD estará entre elas. Estou disposto a dedicar um tempo especial em São Bernardo, Santo André, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. As cidades que nós já governamos. Mas é importante saber que tenho outras tarefas e outras capitais que tenho de visitar. Em São Paulo está chegando a hora de o PT voltar a governar. Só precisamos montar uma chapa perfeita. O PT tem de encontrar um vice que dialogue com representantes do setor médio da sociedade, do pequeno empresariado, do profissional liberal e pessoas que têm um pouco de cisma do PT. Costumo dizer que vamos vencer em São Paulo quando encontrarmos o nosso “José Alencar” (ex-vice-presidente da República nas duas gestões com o Lula). Alencar significou muito nas minhas gestões. A nossa política e parceria foi impressionante.

ABCD MAIOR - A crise do PSDB em São Paulo poderá ajudar o PT a retomar a Prefeitura de São Paulo e outros municípios?

Lula - O PSDB está em crise de fragilidade ideológica. O PSDB não sabe se é PSDB, se é PMDB ou se é DEM. É um partido com muitas dúvidas e que não tem um perfil ideológico definido. Não acho que devemos julgar a crise do PSDB apenas com a saída dos vereadores da Câmara de São Paulo. A crise do PSDB é mais profunda. Quando Fernando Henrique Cardoso venceu a eleição de 1994, eles projetaram 20 anos de governança contínua do PSDB, o que não aconteceu. Na verdade, quem deverá ter os 20 anos de governança direta é o PT, pois fizemos muitas coisas nos oito anos do meu governo e a Dilma vai fazer muito mais nos próximos oito anos. Eles (tucanos) não se conformam de que é o PT que terá tempo necessário para mudar, para melhor e definitivamente, a cara do Brasil. Estou certo de que a crise do PSDB é uma crise de identidade. Ou seja, primeiro tem uma disputa interna entre Serra (José Serra), Alckmin (governador de São Paulo, Geraldo Alckmin) e Aécio Neves (senador). Eles têm o PT como adversário principal, e o PT tem que juntar todos os diferentes para que possamos vencer os antagônicos.

ABCD MAIOR - A Dilma será a candidata à reeleição em 2014?

Lula - Não tem como esconder, embora ela não pode, e nem deve falar, mas Dilma será a candidata do PT em 2014. Dilma vai mudar a cara do Brasil para muito melhor. Ela vai lançar o programa de combate à miséria absoluta, onde fará um pente-fino para descobrir quais são os pobres que ainda não foram atendidos e apresentará novas propostas para formação e geração de emprego. É importante o pessoal saber que Dilma trabalhou cinco anos na formação e coordenação de todos os programas do nosso governo. Ela sabe tanto, ou até mais que eu, do caminho que deverá trilhar para acabar com a pobreza e miséria absoluta do Brasil.

ABCD MAIOR - O senhor pretende voltar às portas de fábricas do ABCD para fazer campanha sindical?

Lula - Falei com o Sérgio Nobre (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) que terei um enorme prazer de participar de algumas assembleias. As pessoas têm clareza que os trabalhadores do ABCD, principalmente os metalúrgicos, tiveram muitas conquistas nos últimos oito anos, com aumento salarial acima da inflação e participação nos lucros. Além disso, imprimimos um ritmo de crescimento em que o ganho de produtividade não resultou em aumento da inflação. E neste momento precisamos estar juntos com a nossa presidenta para evitar que volte a inflação. Todos nós, pois combater a inflação não é uma responsabilidade apenas da Dilma ou do Guido Mantega (ministro da Fazenda).

15 abril 2011

A nova métrica do capitalismo

Por: Giuseppe Cocco*
Originalmente publicado na INOVA
Economista abre o debate sobre a necessidade de uma nova forma de se medir a riqueza de um país

A atual crise do capitalismo global acelera as reflexões e aporta novas urgências ao debate sobre indicadores de mensuração da riqueza (PIB) e da inovação diante do novo papel do conhecimento. Na modernidade industrial, produziam-se mercadorias por meio de conhecimento; no regime de acumulação contemporâneo, produz-se conhecimento por meio de conhecimento. O conhecimento não é mais instrumental voltado a um fim (o bem), mas contém seu fim dentro dele mesmo, num processo que, justamente, não tem fi m. Incerteza e singularização (customização) dos produtos, dos produtores e dos consumidores determinam a substituição da informação pelo conhecimento enquanto atividade refl exiva de julgamento. A informação permitia instaurar um mesmo mundo que os atores compartilhavam com base na mensurabilidade e equivalência generalizada: aquela dos preços. O conhecimento diz respeito a uma multiplicidade de mundos. Uma produção de mundos: aquele veiculado pela marca, o marketing, a propaganda, o design. O cálculo (quantitativo - informacional) deve “fazer as contas” com o julgamento (qualitativo - comunicativo): os saberes sociais, longe de serem unitários e indiscutíveis, se tornam múltiplos e controvertidos.

A crise permite (ou até obriga) uma ressignificação da relação entre consumo e produção que passa necessariamente pelo enfrentamento do enigma do valor e esse, por sua vez, implica a redefinição da convenção que junta dialeticamente trabalho e emprego, trabalho e capital (sendo que a ficção financeira não se reduziu apenas à alavancagem do crédito por meio dos derivativos, mas diz respeito também à ilusória equação constituída pela difusão social do trabalho e a fragmentação de sua remuneração). Usando a metáfora da colmeia e da polinização, podemos dizer que a crise do valor e a crise fi nanceira são resultado da nova condição do trabalho numa sociedade cujas convenções continuam a ser aquelas da colmeia. A análise tradicional do valor (e da inovação) se limita à produção (output) de mel, que pode ser negociado no comércio, e, pois, a uma racionalidade instrumental voltada a um fi m (o mel), apropriável sob as formas de direito de propriedade privada ou pública (estatal). Mas o valor criado pelo trabalho indireto, imaterial, relacional (de polinização) é “n” vezes mais importante que o trabalho material (direto) de produção de mel. Esse descompasso foi preenchido pelo consumo alavancado pelo crédito. Os desafi os de uma nova métrica são exatamente aqueles do reconhecimento das dimensões produtivas da polinização e, pois, da construção de instituições e convenções adequadas a essas redes cognitivas e não mais presas pela lógica de poder da colméia.

A produção e inovação por propagação polinizadora é aquela dos enxames de empresas territorializadas (APLs), movimentos (pontos de cultura, trabalho colaborativo em rede Web), territórios de cidadania, bacias de trabalho metropolitano, renda (o Bolsa Família). Precisamos de indicadores de “enxameamento” que reconheçam a dimensão produtiva e não deixem esgotar-se sua dinâmica propagadora.

*Giuseppe Cocco é professor de economia da Universidade Federal do rio de Janeiro.

06 abril 2011

Metrô: degradar para privatizar

Imagino um corpo ocupando o espaço em uma estação de metrô, empurrando catracas, pessoas, produtos, o que ao redor estiver. Esse corpo se mistura numa imensa massa. São muitos corpos, escravos de um sistema, que se deslocam de uma só vez, passando vezes por cima, vezes por baixo da terra. Rompem por trilhos os subterrâneos, por túneis as montanhas, por pontes os rios. Ainda que não se veja essas paisagens. São muitas pessoas nos infinitos vagões. São muitíssimos corpos em muitas latas.

As estações são imensas plataformas, com mais gente indo e vindo. Esse corpo nem caminha. Desliza e segue por outra dimensão. Ele segue no ritmo de uma correnteza cheia, de mar virado. Ninguém se afoga, mas o oxigênio falta para muitos.

Empurrado pra dentro do vagão, esse corpo esvazia a mente para caber melhor. Às vezes se pendura em barras de ferro, recobertas de suor resfriado. Esse corpo já deixou a face estampar o cansaço. Um apito e todos saem do trem. À espera. Outro apito e abarrota-se outro tem. Mais um apito e segue, para mais além dos trilhos, a massa de corpos.

Essa manobra de seres humanos é um sistema de deslocamento, que a cada ano encarece mais e a cada mês aumenta a degradação do bem-estar social. Não que eu dite previsões, mas tamanha é a presunção dos diretores do metrô, que tudo já caminha para um espatifar. Pois desse cenário não se vê outra saída, se não um triste genocídio civil metropolitano.

Eu não quero ver o corpo que imaginei passando por esse processo. E quem iria querer uma coisa dessa?

17 março 2011

Toda essa terra


Foto= América Latina, por Google Earth

Andar por todos os lados. Cumprir o dia e seguir para um leste, pelo saber. Isso foi hoje, ontem, antes de ontem e o será amanhã. É precioso o vai e vem que leva a essa busca.

E o que será de meu norte, que nunca o vi hoje. São peles como essa e pelos escuros. Quantas são as cores até chegar lá. Pra lá no nordeste tem o quê, quem o fez, quem o faz. São perguntas, questões, defesas e o centro de tudo. Formular hipóteses e chegar a um plano infinito.

Pelo caminho, as veias do centro oeste. As corridas pelas caatingas e rios que rasgam a pele da terra. São formas de vida as veredas que abrem esses caminhos. Cortm a serra. É ou não é.

Não é e não é. Daqui debaixo se vê. Se olha admirado pra tudo isso que ainda temos. São mil olhos sabe-se lá com quais olhares. E esses agradecidos e satisfeitos, te querem cuidar.

08 março 2011

Viagem sobre o instinto - pensando o dia das mulheres


Imagem: Karmym - Markus Meier

Cada ser é responsável por um sentimento único sobre o universo.
Essa visão rege cada milésimo de ação. Desde o abraço até o enforcamento.
Isso explica, sob o ponto de vista individual, a existência do inconcebível.
O que um nunca faria, o outro se encarrega. E assim se forma o todo.

Mas para além das perspectivas individuais, existem as instintivas.
O instinto não é um sentimento, mas sim uma arma, um mecanismo de defesa e ação que se estabelece de diferentes formas em espécies, subespécies e grupos.
O instinto não é único como são os sentimentos, por mais que os sentimentos com relação aos instintos sejam individuais.

Assim, penso o instinto como um aspecto não individual. O instinto é grupal e aproxima os seres em busca de necessidades vitais. E divido a espécie humana em dois grupos: àqueles que se sensibilizam com mais força com os instintos femininos e àqueles que se sensibilizam com mais força com os instintos masculinos.

Não se trata de separar machos e fêmeas, homens e mulheres, mas de perceber as diferentes formas de se completar o todo, a partir dos instintos e da necessidade de encontrar o equilíbrio nessa relação natural.

06 março 2011

Pachamama



Estou com muita saudade de cair na estrada. Perder a vista por montanhas infinitas, ver a Terra me circular por todos os lados, caminhar sobre o chão e deixar o asfalto de lado. Ver Pachamama, Deusa Terra, a Terra que nos prove o que precisamos. Pachamama que dá sem pedir nada em troca, sem cobrar a conta.

O documentário Pachamama não matou minha vontade do rolê, mas me instigou a procurar logo por novos caminhos e reavivou memórias lindas da viagem que fizemos à Bolívia no fim de 2009. O filme documenta uma viagem de carro pela América Latina, daquelas que todo mundo, que gosta de estrada, já pensou em fazer com os amigos.

Eryk Rocha dirige e filma a passagem por paisagens e situações no Brasil, no Peru e na Bolívia, sensível ao momento histórico, social e político que envolve as três nações e o continente, no final da década de 2000. Os personagens que compõe o enredo são densos e retratam com fidelidade as diversas visões dos latino-americanos sobre a realidade social atual. Para quem gosta de visual de estrada e pensamentos sócio-políticos na América Latina, o documentário é uma ótima pedida.

Documentário: Pachamama, de Eryk Rocha – Disponível para locação na 2001 da Paulista

24 fevereiro 2011

A revolução está na lei


Greenpeace põe no prédio do Congresso uma torre eólica para lembrar aos deputados que a Lei de Renováveis, esperando votação, garante o futuro limpo para o Brasil.

O dia no Congresso Nacional em Brasília começou movimentado. Por volta das 9h ativistas do Greenpeace entraram em ação para pedir que os deputados federais votem o Projeto de Lei de Renováveis, paralisado desde o final de 2009 na Câmara Federal.

Quatro ativistas subiram ao lado da cúpula do Senado Federal para despistar os seguranças. No mesmo momento, um grupo de dez pessoas se organizou ao lado da cúpula da Câmara Federal e “plantou” uma torre eólica inflável de 25 metros, onde se lia a frase “Energia limpa. Voto no futuro”. Por duas horas os ativistas se mantiveram sentados no local. Quatro pessoas ficaram detidas na Sede da Polícia Legislativa do Senado. Dois fotógrafos da imprensa foram agredidos.

A reação intempestiva dos seguranças é um contraponto às intenções do Greenpeace: promover um desenvolvimento limpo e pacífico do país. O Projeto de Lei 630/03, de autoria do deputado Fernando Ferro (PT-PE), mais conhecido como Lei de Renováveis, é considerado a semente de uma revolução energética capaz de garantir o futuro de nosso país.

O texto espera há um ano e meio entrar na pauta de votação. “Que o projeto seja priorizado pelos parlamentares, e que eles compreendam seu potencial para incentivar um setor econômico verdadeiramente verde”, afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace. No final da manhã, após a manifestação, ele protocolou o relatório “Revolução Energética”, estudo que mostra que um novo cenário energético baseado em fontes limpas é possível no Brasil.

A proposta cria um ambiente seguro para encorajar investimentos em geração limpa como eólica, solar, pequenas centrais elétricas (PCHs) e usinas de cogeração a biomassa. Com sua aprovação, o Congresso dará início a um ciclo virtuoso capaz de colocar o Brasil em lugar de ponta no setor de energia do século 21. A Lei de Renováveis aloca subsídios para fontes de geração limpa e assegura a elas prioridade na ligação com a rede de distribuição de energia nacional.

Ela também amplia a quantidade de energia limpa comercializada no país e abre o caminho para a geração descentralizada, prevendo inclusive que brasileiros, individualmente, possam gerar energia em suas próprias casas e jogar o excedente na rede elétrica. Quando aprovada, a lei aumentará o volume de energia limpa na nossa matriz elétrica, empurrando para baixo o custo de geração para os consumidores e colocando o Brasil na vanguarda da luta contra o aquecimento global.

Em nosso país, a queima de combustíveis fósseis para a produção de energia figura entre as principais fontes de gases de efeito estufa. O Brasil está entre os principais responsáveis pelas emissões que ameaçam o clima do planeta. O projeto do deputado Fernando Ferro tira o Brasil do rumo do passado, evitando que continuemos a ligar térmicas a óleo, por exemplo, para suprir nossas necessidades energéticas.

18 fevereiro 2011

Sem-Teto em Preto e Branco

Ocupação de sem-tetos na Cidade São Jorge: Alexandre Bigliazzi registrou com filme em preto e branco
Texto Marina Bastos, do ABCD MAIOR

No primeiro semestre de 2010, mais de 600 famílias, organizadas no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) fizeram uma ocupação no bairro Cidade São Jorge, em Santo André. O terreno, parte particular e parte da Prefeitura, estava abandonado há décadas e a ação foi uma medida para pressionar o Estado a tomar alguma atitude diante do descaso com as famílias sem-teto e realizar uma reforma urbana que contemplasse a população pobre, relegada a locais com as piores condições de moradia.

Na época, a Prefeitura conseguiu liminar de reintegração de posse, mas abriu um canal de diálogo com o movimento para propor soluções de moradia para as famílias que estavam na ocupação, como a bolsa aluguel.

Homens, mulheres, crianças e idosos fizeram de tendas suas casas e do acampamento uma rotina. Diversas situações e trajetórias levaram aquelas pessoas ao mesmo destino, o mesmo terreno. Durante todo esse processo, que durou mais de um mês, o fotógrafo Alexandre Bigliazzi, de Santo André, passou a frequentar a ocupação diariamente.

Munido de uma câmera fotográfica e da companhia de um assistente, passou a registrar, em fotografias em preto e branco, detalhes do dia-a-dia de pessoas que fizeram da vida uma luta. O resultado pode ser conferido na exposição “Ocupações”, que fica até 28 de fevereiro na Câmara Municipal de Santo André (praça IV Centenário, Centro).

Entre cerca de 500 imagens produzidas, Alexandre selecionou 20 que pudessem melhor retratar o que foi a ocupação da Cidade São Jorge e também o que a experiência de frequentá-la o ensinou. “A questão da habitação ainda é secundária na Região, o governo não trata a situação como deveria”, disse, acrescentando que, apesar desta impressão, a exposição não se trata de um protesto. “Aquelas pessoas parecem invisíveis, mas não são, aquilo é uma realidade e eu quis mostrar”, explicou.

Bigliazzi conheceu muita gente e pôde perceber diferenças nos motivos que levaram cada um a estar ali. “Algumas pessoas realmente lutavam por uma causa e estavam dispostas a se organizar, mas também havia quem estava na ocupação para tirar proveito do que os outros conquistavam”, relatou Bigiliazzi.

Serviço
Exposição “Ocupações”
Câmara Municipal de Santo André (praça IV Centenário, sem número)
Até 28 de fevereiro, de segunda a sexta, das 9h às 18h.

17 fevereiro 2011

Você que lê e não sabe - Na Tonga da Mironga do Cabuletê


Clique aqui para assistir ao vídeo

Ano de 1970. Vinícius e Toquinho voltam da Itália onde haviam acabado de inaugurar a parceria com o disco "A Arca de Noé", fruto de um velho livro que o poetinha fizera para seu filho Pedro, quando este ainda era menino. Encontram o Brasil em pleno "milagre econômico". A censura em alta, a Bossa em baixa.
Opositores ao regime pagando com a liberdade e a vida o preço de seus ideais.
O poeta é visto como comunista pela cegueira militar e ultrapassado pela intelectualidade militante, que pejorativa e injustamente classifica sua música de easy music. No teatro Castro Alves, em Salvador, é apresentada ao Brasil a nova parceria.
Vinícius está casado com a atriz baiana Gesse Gessy, uma das maiores paixões de sua vida, que o aproximaria do candomblé, apresentando-o à Mãe Menininha do Gantois.
Sentindo a angústia do companheiro, Gesse o diverte, ensinando-lhe xingamentos em Nagô, entre eles "tonga da mironga do cabuletê", que significa "o pêlo do cu da mãe".
O mote anal e seu sentimento em relação aos homens de verde oliva inspiram o poeta. Com Toquinho, Vinícius compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves.
Era a oportunidade de xingar os militares sem que eles compreendessem a ofensa.
E o poeta ainda se divertia com tudo isso: "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô".

Fonte: Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão; uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

11 fevereiro 2011

Balé soteropolitano à Flor da Pele



Está em cartaz, no Sesc Vila Mariana, a Companhia de Dança soteropolitana Balé Teatro Castro Alves. O espetáculo aposta no despertar da sensibilidade e revela processos de mudança pelos quais homens e mulheres passam durante a vida.

Fui ontem assistir “À Flor da Pele” e encontrei um teatro com muitos lugares vazios, que mereciam estar preenchidos. Foi muito bom.

No início do espetáculo acontece uma interação com o público. Minha mãe recebeu um abraço de um bailarino, enquanto o Vinicius tinha seus chinelos Havaianas levados para o palco, sob a frase “empresta-me teus pés e te devolvo no fim do espetáculo.”

Na uma hora e vinte minutos de dança, muito movimento, expressão, respiração e entrega. Chuva de areia, ilusão de ótica, sustos e risadas.

Ainda dá tempo. Hoje tem de novo À Flor da Pele, às 21h.
Sábado, às 21h e domingo, às 18h, da mesma Companhia, A Quem Possa Interessar.


“À FLOR DA PELE” – Coreografia Ismael Ivo, direção artística Jorge Vermelho. O espetáculo tem como proposta utilizar o corpo como um passaporte e como um documento do tempo atual, identificador de momentos importantes de mudanças. Qual o fato ou situação na vida de cada um, onde você se depara num beco sem saída? Qual o evento mais marcante onde a vida de cada um dá uma guinada? Para o bem ou mal, somos forçados a rever coisas, mudar, transformar, fazer metamorfoses. O que faz você ser o que você é está escrito no seu corpo. Um corpo que em face de reconhecer sua existência e condição mortal usa a arte da dança para deixar uma mensagem e dança uma batalha para deixar marcas profundas.

“A QUEM POSSA INTERESSAR” – Coreografia Henrique Rodovalho, direção artística Quasar Cia de Dança, de Goiás. O espetáculo foi construído a partir de um trabalho coletivo em que os próprios bailarinos foram incitados a resgatar suas trajetórias e experiências, sobre o bem estar, o prazer e a alegria, elementos que devemos apreciar e sentir aqui e agora.

Serviço: Sesc Vila Mariana - Rua Pelotas, 141 – Estacionamento no local
Telefone: 11 5080-3000
Os ingressos custam R$ 24, (inteira), R$ 12, (usuário matriculado no SESC e dependentes, idosos e professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante) e R$ 6, (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).

09 fevereiro 2011

Entre os muros da academia

Um dos principais desafios do governo é o de tampar o fosso entre universidades e indústria



Os números da pesquisa científica nacional surpreendem. Entre 2000 e 2009, o volume de publicações aumentou 205%, atingindo o montante de 32 mil artigos
indexados no National Science Indicators (NSI) Thomson Reuters. Em 2008, o
País assumiu a 13ª colocação no ranking NSI, ficando à frente de potências
em ciência e tecnologia, como Rússia e Holanda, tornando-se responsável por
2,69% da produção científica mundial.
Ainda assim, há um consenso sobre a falta de diálogo entre a indústria e a
universidade e essa lacuna deve se colocar como um dos principais desafios do
governo atual, no que tange à educação. Não se trata apenas de investimentos, mas
de direcionar acordos entre atores com diferentes perspectivas. Para o pró-reitor de
Pós-graduação da UFABC, Carlos Kamiesnki, já existe uma compreensão no meio
acadêmico, político e empresarial de que o Brasil precisa acelerar o processo de
transmissão de conhecimento para o setor produtivo a fim de gerar inovação.
Ainda em 2010, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), anunciou o incremento de mais duas mil bolsas de formação. No total, são
cerca de 93 mil bolsas, apoiando desde a iniciação científica até pesquisadores
altamente qualificados. “O aumento no número de bolsas é significativo e as
agências de fomento privilegiam propostas de parcerias com o setor produtivo.
Mas um avanço real deve ser alcançado a partir da implantação das diretrizes para
políticas públicas que estão sendo colocadas no Plano Nacional de Pós-Graduação
(PNPG) 2011-2020 e no Livro Azul da 4ª Conferência Nacional de Ciência
Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável”, analisa Kamienski.
Dentro da universidade, o pedido da indústria, de estimular a cultura da inovação
para criar competitividade, começa a ganhar espaço e forma. A UFABC acaba de
criar o Núcleo de Inovação Tecnológica, com foco no desenvolvimento de projetos
de inovação tecnológica e científica.
Para o pró-reitor de pesquisa da UFABC, Klaus Capelle, outro fator determinante
para a aproximação dessas duas esferas sociais foi a criação das leis do Bem
e de Inovação, mas ainda existem desafios a serem superados no campo legal.
“Essas leis tem facilitado atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação no
Brasil, mas ainda há muitos entraves burocráticos. Por exemplo, a importação de
equipamentos e insumos para pesquisa precisa ser facilitada.”

Esse texto compõe a matéria de capa da INOVABCD de fevereiro. Para ler a matéria clique aqui

03 fevereiro 2011

Egito: lições da história Persa

O Ditador do Egito, Mubarak, aprendeu com a história

A prova de proficiência em língua estrangeira, aplicada hoje aos alunos que concorrem a uma vaga no curso de pós-graduação da EACH-USP, pediu aos candidatos que traduzissem um texto sobre a situação do Egito hoje e as experiências da Europa ontem.

Em busca do texto e de verificar o potencial do meu espanhol, percebi que fiz uma boa tradução, mas esqueci de traduzir o título. Ai, que merda. Porém, como meus erros são ínfimos perto da gravidade da situação do Egito, decidi traduzir o texto de novo, para compartilhar esse novo e bem vindo conhecimento.

JAVIER MARTÍN - Egipto: Lecciones de historia persa, do El Pais
No final de 1979, uma constelação de grupos diversos tomou as ruas do Irã aos gritos de "liberdade" e "Morte ao ditador". Reunidos em torno de uma ligação única – o Indigesto - representavam todo o espectro da sociedade: ombro a ombro marcharam comunistas, socialistas, democratas, sindicalistas, intelectuais, moderados e radicais islâmicos ... Todos igualmente cansados da arbitrariedade de um rei que, sob uma fino verniz de democracia, desperdiçou o tesouro nacional, alheio às misérias e preocupações de seu povo, mantendo um serviço de inteligência brutal e repressivo. Mas, para além do ódio comum, cada grupo possuía uma esperança diferente sobre o futuro. Abençoado pelo Ocidente, o protesto cresceu e o rei assustado, abandonado até mesmo pelos seu poderoso Exército, empilhou em baús sua fortuna, ligou o ar condicionado de seu luxuoso avião e, acompanhado por seus amigos mais próximos, partiu para o exílio no Egito.

Trinta e dois anos mais tarde, as ruas da cidade onde o mal fadado Sha descança em paz, fervem com os ecos de um passado que não está tão longe. Estimulado pelo vôo recente para a Tunísia, de outro ditador com pele democrata, centenas de milhares de egípcios lotam praças e ruas exigindo o fim da ditadura de Hosni Mubarak, à data "aceita" pelo Ocidente. Como naquele ontem ainda próximo, socialistas, sindicalistas, apolíticos, democratas, intelectuais, laicos e religiosos radicais e moderados, uniram-se em um objetivo comum: a queda do ditador, que os empobreceu, confiante na sua posição de "aliado indispensável" para a segurança na região.

Este hoje e o ontem são diferentes. O Egito, que arde no amanhecer do século XXI não é Irã dos últimos suspiros do século passado. Nem a diversidade cultural, histórica e religiosa é comparável, embora ambas sejam nações muçulmanas. Mesmo a situação internacional é outra. A cortina de ferro desapareceu e os atores globais fazem parte de outra tragicomédia. Mas vale a pena recordar a passagem e os resultados da revolução iraniana antes de deixar os fantasmas no passado. Como, então, os islamitas, melhor estruturados, decidiram lutar no pano de fundo. A Irmandade Muçulmana, tradicionalmente a mais importante força de oposição, ficou por trás da imagem "amável” de Mohamad Baradai, Prêmio Nobel da Paz e um homem de prestígio internacional. É verdade, que no Irã é agora considerada uma figura emblemática o aiatolá Ruhollah Khomeini, que revigorou e, eventualmente, aproveitou o protesto, mas a princípio os iranianos religiosos também lhe deram seu papel. Na transição, e as costas aclamado clérigo em Teerã, a tarefa de formar o primeiro governo revolucionário coube a um leigo, Mehdi Bazargan, candidato de Jomeini contra as ambições do ex-primeiro-ministro Sha, Shapour Bakhtiar. Apenas sete meses depois, com os islamistas escalando para todos os ramos do Estado, Bazargan renunciou e passou o poder a um Comitê Revolucionário, que prontamente estabeleceu o atual regime teocrático.

A história nunca se repete, mas ao longo dos séculos encontramos patrões semelhantes. Mubarak, que viu a barba de seu vizinho cair, no terremoto político da Tunísia, parece ter-se preparado para resposta: a indicação de Omar Suleiman como vice-presidente, cargo vago desde que Mubarak o deixou em 1981 para tomar o poder. O ex-chefe dos serviços secretos é um homem de prestígio no seio das forças de segurança e do exército, capaz de controlar e evitar a deserção que precipitou tanto o colapso de Sha e a fuga de Ben Ali, e garantir estabilidade rápida ansiada pelo Ocidente, em uma área de alto valor estratégico. Também para o poderoso vizinho Israel, que o conhece bem. Não por acaso ele era o enviado especial do presidente egípcio para assuntos palestinos. Além disso, há mais de cinco anos saindo do anonimato, pesou-se várias vezes em Suleiman como eventual sucessor. Hoje, apenas ensombrado pela aspiração do filho de Mubarak, Gamal.

Para resolver a equação, precisamos saber se as pessoas estão dispostas a aceitar a transferência de poder para Suleiman e quanto o povo está disposto a resistir nas ruas. E também, qual o caminho que escolhem os islamitas. Se, como diz o líder tunisino Rashid Ghanuchi "Eu não sou Khomeini”, for favorecido um aspecto mais abrangente, semelhante ao encontrado na Turquia. Não há dúvida de que, em um processo democrático com todas as garantias, a melhor estrutura iria recompensá-lo com o apoio popular suficiente para a imposição de algumas de suas condições, como no Líbano com o grupo xiita Hezbollah. É também um teste para os EUA e Europa, que aspiram a não repetir os erros, os governos devem aceitar a influência islâmica ... Se essa for a vontade dos povos árabes nas

17 janeiro 2011

A história da América e o romance de Zarité


Zarité! Seu dono pode te descobrir fazendo amor pelos cantos com Gambo. Eu sei que ele é um negro tentador e sedutor, mas Valmorain não irá gostar nada de ver sua concubina gastando o sexo com um escravo! Me pego rogando para suas loas, a Papa Bundy, seu Deus africano, para que lhe proteja. E torço o nariz quando vejo você se aproximar de Jesus, enquanto crio alguma consciência sobre o que é o Haiti. Ah, cheguei na última página, mas não te esquecerei tão cedo, Teté!

Em seu livro A Ilha Sob o Mar, Isabel Allende narra a vida da menina nascida escrava Zarité, em um romance histórico instigante e revelador, aos olhos de quem ainda conhece pouco a história da América.

A narrativa começa em 1770, quando o jovem francês Tolousse Valmorain parte para a Ilha de Saint Domingue, onde hoje é o Haiti, para administrar a plantação de cana de açúcar do pai. No enredo, o tráfico negreiro nas Antilhas, a disputa européia pela colonização da América, as revoluções francesa e haitiana, a decadência da monarquia e ascensão da república, os deuses africanos, a mentalidade opressora dos brancos e uma cidade chamada Nova Orleans.

Isabel retrata uma pesquisa histórica fantástica e revela nomes, planos governamentais, estratégias de guerra e costumes da época, costurados pela vida de Teté, que reconhece o brilho intenso de sua z’etoile, mesmo sendo uma escrava cheia de cicatrizes.

A pesar de não tecer uma linha sobre desastres naturais, o livro esclarece em diversos aspectos a sensibilidade do Haiti. Como poderia, um território devastado pela exploração desmedida e posteriormente pelas chamas da revolução, se recuperar em tão pouco tempo para resistir aos terremotos caribenhos? Não poderia.

O Haiti é muito mais do que sabemos, porque nunca interessou aos países centrais contar ao mundo o exemplo revolucionário que brotou das montanhas de pedra dessa ilha, vizinha a Cuba e com tanta história cruzada. Obrigada Isabel, por me abrir os olhos e o coração.

11 janeiro 2011

Cratera do metrô completa 4 anos, sem punições


Fui chamada para fazer um trabalho sobre a cratera do metrô. O trabalho ficou parado nos arquivos, mas na minha memória ficou latente a impunidade. Relatórios técnicos apontam os culpados: o Governo do Estado e as construtoras. Mas até hoje, 4 anos após o acidente, ninguém foi julgado, nenhuma medida foi tomada, e os assassinos de 7 cidadãos seguem livres, alcançando a reeleição e novos contratos milhonários.

Recordar é viver. Assim, segue um texto que resume todas as informações a que tive acesso para realizar um trabalho censurado pelo "ano de eleições em SP":

Às 14:55 de 12 de janeiro de 2007, um buraco de 80 metros de largura e 30 metros de profundidade se abriu no coração de São Paulo engolindo casas, veículos e pessoas. Em questão de minutos, as obras da estação Pinheiros da futura Linha 4 do metrô de São Paulo ruíram. Os funcionários que se encontravam a mais de trinta metros de profundidade nos túneis da construção conseguiram escapar à tempo. No entanto, um motorista da obra e seis cidadãos comuns não tiveram a mesma sorte.

Enquanto o desmoronamento começava, operários pulavam o muro para fugir do canteiro de obras. Um microônibus com parada na Rua Capri, seguiu viagem sem saber o que acontecia no subterrâneo abaixo. Nenhum alerta foi dado. Os operários invadiram as ruas gritando para que as pessoas corressem. Uma nuvem de poeira tomou o lugar e o frentista Israel Domiciano, 28, viu o evento engolir o microônibus que tentava alcançar.

A televisão acompanhou o resgate de corpos, o trabalho dos bombeiros e o desespero de familiares das vítimas. Em meio à confusão, José Serra visitou o canteiro e declarou que “a obra ainda será entregue no prazo estipulado, o primeiro semestre de 2009". Denúncias de problemas anteriores surgem de todos os lugares. Meses antes, os moradores da região já haviam reclamado de rachaduras em suas casas. “Já havíamos levado à justiça denúncias anônimas de operários sobre irregularidades na obra”, fala Flávio Montesinos Godói, ex-presidente Sindicato dos Metroviários.

O caso parece esquecido, mas agora que Geraldo Alckmin garantiu mais quatro anos de governo em São Paulo, deve ter que lidar novamente com as obras do metrô, que sob sua gestão iniciaram o caos dos transportes sobre trilhos paulista. O metrô do futuro, classe A, começou a funcionar em uma área nobre de São Paulo, ligando a Avenida da Consolação a Avenida Faria Lima. Uma inauguração, pré-eleição, de José Serra: Linha 4 Amarela. Mas o candidato à Presidência não conseguiu solucionar os nós do incidente que matou pessoas e que envolve o Governo do Estado e as maiores Construtoras do País.

A Linha 4- Amarela foi concebida sobre um plano de privatização, resultado da primeira e mal sucedida Parceria Público-Privada (PPP) contratada no Brasil , sob o comando do Governo do Estado de São Paulo. A Amarela era pensada desde 1950, mas suas obras somente tiveram início trinta anos depois. O sistema deveria ter começado a atender a população em 2007. E o trecho inaugurado às vésperas das eleições em 2010, funciona com apenas cinco dos 14 trens previstos em contrato. Totalmente pronta, a linha teria 12,8 quilômetros de extensão e 11 estações, ligando a Estação da Luz, no centro da cidade, ao bairro de Vila Sônia, na zona Oeste.

O trabalho completo ficará para 2014. Trinta anos de atraso político para articulação de uma linha com pouco mais de 10 quilômetros não aceleraram o processo construtivo. Depois de seis anos do início da obra o serviço só deverá ser entregue daqui há quatro anos. São menos de 13 quilômetros em 40 anos.

O Governo promete entregar a estação Pinheiros ainda em 2010, antes mesmo de responder à sociedade, por “um dos maiores acidentes urbanos da história da construção civil brasileira.” A frase é do engenheiro Paulo Helene, Professor e Presidente da Associação Latinoamericana de Controle de Qualidade, Patologia e Recuperação de contruções (ALCONPAT Internacional). Mesmo assim, o Estado continua a permitir que o mesmo consórcio de construtoras, responsável direto pelo desabamento e morte de sete pessoas, continue o trabalho.

Até hoje as construtoras não foram julgadas. Em um processo mais acelerado está o criminal, onde onze engenheiros, um geólogo e um gerente de produção estão sendo julgados. Mas o incidente ainda foi investigado pela Promotoria de Patrimônio Público e Social do Ministério Público Estadual. O Promotor Saad Mazloum é o responsável pelo encaminhamento e em 30 de março deste ano acusou o Consórcio Via Amarela por responsabilidade civil pelo desabamento nas obras da Linha 4. Ação Civil Pública pede que os responsáveis pelas obras onde ocorreu o acidente sejam obrigados a pagar indenização por danos morais e materiais que somam R$ 239,8 milhões.

O Ministério Público responsabiliza, com base na lei de Improbidade Administrativa, seis pessoas (Luiz Carlos Frayze David, Marco Antonio Buoncompagno, José Roberto Leite Ribeiro, Cyrio Guimarães Mourão Filho, Jaelson Antonio Sayeg de Siqueira e German Freiberg). Além destes as empresas Consórcio Via Amarela, CBPO Construtora, OAS, Construtora Queiroz Galvão, Construções Camargo Corrêa, Construtora Andrade Gutierrez e Alstom Transport, também são apontadas na ação.

Mazloum investiga corrupção e improbidade e aponta como causa da tragédia a contenção de gastos na execução da obra. À página 5 da petição elaborada pelo promotor registra-se a "ganância" dos acusados. À página 60, acentua: "Tragédia anunciada, incúria, omissão, irresponsabilidade dos agentes do Metrô". À página 66, ele anota que os R$ 238 milhões correspondem a 1,5% das receitas anuais das empreiteiras do consórcio que, segundo seu levantamento, arrecadam R$ 15 bilhões por ano.

À página 29, Mazloum acusa os empreiteiros de "aumentarem os lucros com a redução dos custos". Para ele, "a economia feita, de material, estudos e análises, foi preponderante para o desabamento". Ele sustenta ainda que os empreiteiros, em busca de "ganhos opulentos" são os responsáveis pela cratera de 2,2 mil metros quadrados. Finalizando, o promotor de Justiça, defende que o desabamento aconteceu "com a mais plena omissão e desprezo de agentes do Metrô", colocando a questão sob responsabilidade do Estado. Os R$ 238 milhões foram calculados com base no contrato — R$ 740 milhões — entre o Metrô e o consórcio. Representam cerca de 30% do desse valor.

A ação também pede ressarcimento ao erário do valor do contrato entre o Metrô e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), ou R$ 6,5 milhões. O promotor também aponta ato de improbidade por parte do Estado que, segundo ele, está caracterizado na contratação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) - o Metrô contratou o instituto por R$ 5,5 milhões, valor acrescido de R$ 1 milhão a título de aditamento.

Na época em que o IPT foi contratado, José Serra defendeu a contratação de apenas uma instituição para realização da perícia, inteirando a credibilidade do IPT. O Presidente do Instituto era Vahan Agopyan, substituído antes da conclusão do estudo por João Fernando, que ocupa o cargo até hoje. Já o presidente do conselho, já na época da contratação e assinatura dos laudos, era Alberto Goldman, atual Governador de São Paulo, que assumiu a cadeira no lugar de José Serra, derrotado nas eleições presidenciais deste ano.

Provas do crime

Os Autos do Processo 442/07 são conhecidos dos funcionários da 1ª Vara Criminal no Fórum de Pinheiros. Peça tranqüilo um dos volumes do processo e receberá em resposta um desconfiado “por parte de quem”? Se a resposta for Arnaldo Rossepian, procurador de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, o dado é checado e se confirmado é possível sentar junto com os funcionários, bisbilhotar o imenso processo encontrar depoimentos como o de Israel, que corria atrás da Van.

O casal, Sebastião e Kátia, assim como Israel, estavam na rua e viram o acidente. Nos depoimentos à polícia, o momento, o estrondo, a rua desabar e o desespero do momento. Os relatos das testemunhas, registrados em Boletins de Ocorrência, dividem espaço com os depoimentos de funcionários do Metrô, engenheiros do Consórcio, Secretários do Governo e da Prefeitura. O processo reúne centenas de pessoas.

Uma página importante é a que aponta que antes do acidente, os engenheiros já tinham sinais claros de que a obra estava em risco e haviam colocado uma série de recalques, vigas de sustentação destinadas a conter o terreno. Na quinta-feira, 11 de janeiro, os engenheiros do Consórcio haviam se reunido. A situação na obra parecia crítica. O solo, que vinha cedendo muito mais do que o esperado desde o início da obra, estava comprometendo a estrutura dos túneis. A solução encontrada foi colocar 270 recalques no túnel ameaçado. No mesmo dia foram abertos os buracos para colocar as vigas, no entanto, na obra só haviam 30 delas. As demais foram encomendadas, porém os trabalhos continuaram sem o reforço necessário.

Os depoimentos ainda apontam que a fiscalização da obra, por parte do Estado, na figura do Metrô, era deficiente. Juristas colaboraram como consultores, esclarecendo a falta de fiscalização: O contrato firmado entre o governo e o Consórcio fazia com que a fiscalização prioritária fosse do próprio Consórcio. Com outro tipo de fiscalização, a obra poderia ter sido parada antes do acidente. O Consórcio receberia um bônus milionário se terminasse a obra antes do prazo.

Outra constatação, apontada por Arnaldo Hossepian Junior, promotor público criminal, esclarece que nas semanas que antecederam o acidente, as obras, na verdade haviam sido aceleradas em 70%, a despeito dos problemas no terreno. E que no dia 12 de janeiro, mesmo sem ter terminado a colocação do reforço do terreno, e tentando acelerar a obra, os encarregados pela construção decidiram iniciar uma fase critica das explosões: os últimos 3 metros que separavam o túnel do metrô do túnel da estação. Essa explosão comprometeu definitivamente o terreno, que cairia horas depois.

Engenheiros e técnicos do IPT não puderam ser consultados pela mídia, por ordem da Secretaria deComunicação do Governo do Estado. No entanto, ainda nas páginas do Processo do Ministério Público, encontram-se depoimentos afirmando a falta de fiscalização por parte do Metrô.
Apenas em junho de 2008, o IPT divulgou suas conclusões sobre o caso. O relatório, descreve em vídeo (assita o vídeo) o acidente e e aponta uma séria de problemas que foram ignorados, como economia na qualidade do material em diversos momentos e uma aceleração vertiginosa dos trabalhos e quantidade de explosões na semana anterior à queda. O acidente completará quatro anos em 12 de janeiro de 2011 e até hoje, nenhum acusado foi julgado.

07 janeiro 2011

Mídia, burguesia e dialética

No começo do segundo grau, começava a se revelar à minha mentalidade ainda infantil a realidade das relações de nossa sociedade. Entre as homéricas brigas com o primeiro namorado e as experimentações de todos os tipos, havia um professor de história, o Alcides, conhecido como Guerreiro.

Lembro do giz escorregando na lousa e dando forma à teoria da Dialética em Espiral. O desenho parecia uma mola em formato de cone, que começava com aros estreitos e terminava com um aro largo e aberto para o que o futuro reserva. O que mais me chocou à época, em palavras curtas e grossas, era que um dia o que estava por cima ficaria por baixo, necessariamente, para fazer girar a roda da história.

Meus colegas de classe hão de concordar que era difícil prestar atenção naqueles momentos, porque todos esperavam o professor terminar as anotações na lousa para vê-lo enfiar o giz no bolso e coçar o pinto, como se ninguém estivesse reparando. Passados os risinhos maliciosos, fiquei olhando para aquele desenho como se aquilo representasse muito mais do que eu poderia processar. E assim foi. Desde então já se passaram uns doze ou treze anos e sempre me recordo da explicação.

Hoje me aprofundo no entendimento da dialética e confirmo a minha sensação de não compreensão da amplitude da explicação do Guerreiro. Tivesse entendido à tempo, não teria feito jornalismo, pensando em trabalhar em um “grande jornal”.

Minha esperança na dialética despontou quando li o seguinte trecho do texto “Os números da Globo: lenta decadência”, escrito por Rodrigo Vianna: “No primeiro governo FHC, Marluce (então diretora geral) tivera duas idéias “brilhantes”: tomar dinheiro emprestado, em dólar, para capitalizar a empresa de TV a cabo do grupo; e centralizar as operações numa “holding”. Ela acreditou nas previsões do Gustavo Franco e da Miriam Leitão, de que o Real valeria um dólar para todo o sempre! Passada a reeleição de FHC, em 98, o Brasil quebrou...” (Íntegra do texto)

Assim, este, que parecia um post melancólico, torna-se um relato de espença, seguindo a lógica de Hegel e da dialética! Se um dia a burguesia dominou a mídia para controlar o acesso à informação e hoje samba para que ela atenda a quem dá mais, há de chegar o futuro, onde essa lógica levará a própria burguesia à falta de informação.

E foram felizes para sempre!

04 janeiro 2011

Henfil: brasileiro, flamenguista e petista


Hoje me lembrei de uma situação que aconteceu, certamente, há mais de 15 anos. Acompanhando minha mãe que escutava um disco de Elis Regina, perguntei quem era o tal do Henfil, que tinha um irmão regresso, ao contrário de tanta gente que partiu no rabo de um foguete.

Minha mãe me explicou quem eram os irmãos e relembrou a passagem de um 4 de janeiro de 1988, quando a parte do País que acreditava na redemocratização e na redução das desigualdades sociais parou diante do noticiário que informava sobre a morte do cartunista Henfil. Seu caixão foi coberto por três bandeiras: a do Brasil, a do Flamengo e a do PT.

Se Henfil nunca tivesse feito a transfusão de sangue que o contaminou com o vírus HIV, hoje estaria comemorando a posse de Dilma Roussef, o avanço do Brasil e com tempo de se preocupar verdadeiramente com o futebol do flamengo.

Tenho pra mim, que a estrela de Lula, a mesma do PT e que agora acompanha Dilma e o Brasil em uma nova fase de evolução, tem seu brilho reforçado por figurinhas como Henfil. Talvez hoje ele redesenhasse o começo de tudo: QUE PAÍS FOI ESTE?