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16 abril 2010

Artigo de Lula - Os Bric: Pensando o Futuro

Por Luiz Inácio Lula da Silva
PARA O SERVIÇO DE NOTÍCIAS GLOBAL VIEW POINT NETWORK

O grupo Bric nasceu há dez anos como uma mera sigla. Identificava um grupo de países que começava a transformar a realidade global.

Essas mudanças começam pelo fato de que, juntos, Brasil, Rússia, Índia e China já contribuem com 15% do PIB mundial. Somos países onde tudo é em grande escala. Representamos quase metade da população mundial, 20% da superfície terrestre e possuímos recursos naturais abundantes.

Somos, sobretudo, nações conscientes de nosso potencial como agentes de renovação. Por isso, os Bric já não são apenas um conjunto de letras. São uma referência incontornável na tomada das principais decisões internacionais. Estamos unindo esforços e coordenando posições para propor uma discussão mais transparente e democrática dos desafios que defrontam a humanidade como um todo.

É esta a mensagem que o Brasil levará à segunda reunião em nível presidencial dos Bric, que se realiza, no próximo dia 16 de abril, em Brasília. Apostamos numa articulação diplomática criativa e pragmática.

Já demonstramos nosso compromisso com o enfrentamento de desafios globais como os da segurança alimentar e da produção de energia no contexto das ameaças da mudança climática.

Mas o verdadeiro batismo de fogo do grupo ocorreu durante a crise global. A sólida reação dos quatro países à derrocada econômica do mundo desenvolvido abriu alternativas, por distintos caminhos, aos surrados dogmas herdados de ontem.

A recessão global não diminuiu o peso dos Bric - muito pelo contrário.

Propusemos estratégias coletivas para superar a crise e dar aos países em desenvolvimento um peso compatível na agenda internacional.

O colapso dos mercados financeiros é sintomático da falência de paradigmas antes tidos como inquestionáveis. Desabaram as verdades sobre a desregulamentação dos mercados. Ruiu o ideal do Estado mínimo.

A flexibilização dos direitos trabalhistas deixou de ser um mantra para combater o desemprego. Quando despencaram todas essas ortodoxias, foi a mão visível do Estado que protegeu o sistema econômico do colapso criado pela mão invisível do mercado.

Enquanto alguns dos principais países deixavam prosperar excessos especulativos, os Bric promoveram crescimento focado no trabalho e na prudência. No Brasil, nunca perdemos de vista o imperativo de enfrentar a desigualdade social. Como resultado, desde 2003, 20 milhões de brasileiros deixaram a pobreza e ganharam os direitos da cidadania plena.

No G-20, propomos saídas para a crise apoiadas em políticas anticíclicas, regulação dos mercados, combate aos paraísos fiscais e renovação das instituições de Bretton Woods.

Não podemos deixar que os sinais incipientes de recuperação da economia mundial sirvam de pretexto para abandonar os compromissos de reforma dessas organizações. Os membros do Bric não injetaram quase US$ 100 bilhões no FMI para que tudo ficasse como antes.

Seguiremos defendendo a democratização do processo multilateral de tomada de decisão. Os países pobres e em desenvolvimento têm o direito de serem ouvidos. Reduzir o fosso que os separa dos países ricos não é só questão de justiça. Disso depende a estabilidade econômica, social e política mundial. É nossa melhor contribuição para a paz.

Os recursos necessários para superar a fome e a pobreza são volumosos, mas modestos, quando comparados ao custo de resgatar bancos falidos e instituições financeiras vítimas de sua ganância especulativa. Não adianta oferecer alimentos e caridade, se não ajudarmos os países a realizar seu potencial econômico e agrícola.

Mesmo esses esforços estruturantes serão insuficientes para reverter a insegurança alimentar que aflige centenas de milhões enquanto persistir a distorção do comércio agrícola mundial. Os subsídios abusivos dos países ricos desestimulam a produção local, fomentam a dependência e desviam recursos melhor aplicados em programas de desenvolvimento. Por isso, é inadiável a conclusão da Rodada Doha.

Em nenhum tema o impasse negociador é tão grave quanto na questão ambiental. Por isso, os Bric estão empenhados em ajudar a fechar o acordo que faltou em Copenhague. Reduzir os gases de efeito estufa e manter o crescimento robusto nos países em desenvolvimento requer que todos façam sua parte, como vêm demonstrando os Bric com iniciativas ambiciosas para mitigar suas emissões.

Por isso, os grandes poluidores históricos têm um encargo especial. O equilíbrio que o Protocolo de Kyoto estabelece é indispensável para podermos avançar juntos.

O cenário internacional está repleto de antigos problemas, ao mesmo tempo em que despontam novas ameaças. Nem os membros do Bric, nem qualquer outro país, tem condições de enfrentá-los isoladamente. O unilateralismo nos levou no passado a impasses, quando não a catástrofes humanas, como a do Iraque.

Dependemos cada vez mais uns dos outros. É imprescindível forjar uma governança global mais representativa e transparente, capaz de inspirar unidade de propósito e revitalizar a vontade coletiva em busca de soluções consensuais. Os Bric cumprirão com suas responsabilidades nessa caminhada.

14 abril 2010

Para quem acha que consumir dá prazer, apresento-lhes a angústia!

Meu pai está preocupado porque já percebeu minha dificuldade de adaptação ao modelo de vida urbano, no que diz respeito às relações de trabalho, ao sistema capitalista, ao modo de consumo que temos que engolir no dia-a-dia.

Ontem fomos à feira juntos e no caminho ele dizia que gente como a gente, muito crítica ao consumo, tem uma grande tendência a se decepcionar. Citou uma reflexão de Maria Rita Kell, com relação às sensações de vazio e angústia. Na hora eu disse que não sentia nenhuma dessas coisas.

Mas, hoje eu vi que era angústia. Eu odeio consumir. EU ODEIO CONSUMIR. Não sei consumir, nem engolir termos e cláusulas. Não sei ficar quieta. Fico magoada. Eu odeio consumir. Consumir me deixa triste toda hora. A história a seguir ilustra bem minha relação com o consumo. Nada de mais, acontece toda hora, faz parte do que o consumo proporciona.

Há um mês, roubaram meu celular. Fiquei um tempo livre do rastreamento via satélite, tranqüila e feliz, até que percebi que pra quem procura emprego, ficar sem celular pode atrapalhar. No dia sete de abril – semana passada – fui até a loja da Oi, no Shopping Santa Cruz, comprar um aparelho e transferir minha linha que era da Vivo. A vendedora me atendeu sorridente, ofereceu mil ofertas para quem trazia o número de outra operadora. Escolhi um aparelho, um plano e pronto!

Pronto nada, portabilidade só daqui três dias. Tudo bem, eu subo na loja da Vivo, compro um chip e nesses três dias fico com a linha Vivo. Como ambos os atendimentos demoraram muito, tive que optar por ou comprar o aparelho na Oi, ou o chip da Vivo. A vendedora da Oi apareceu lá na loja da Vivo para me expor a falta de tempo. Optei por já comprar o aparelho e deixar o chip pro dia seguinte.

No dia seguinte, comprei o chip e... ops, não funciona. A vendedora me vendeu um aparelho desbloqueado, mas que não funciona com chip Vivo. Ela não sabia? Ela foi me buscar dentro da loja da Vivo pra me dizer que tinha que finalizar a compra. Ela sabia.

Tudo bem. Mais três dias sem celular me atrapalha, mas não mata. Sábado o celular começou a funcionar e segunda-feira... puf! Quebrou, o visor não funciona. Hoje fui até a loja onde fiz a compra. Procurei Fátima, a vendedora, que já não estava simpática e me disse: sinto muito, não podemos fazer nada! Só temos 24h para troca. Eu argumentei dizendo que nas 24h o celular nem foi ligado porque ela fez uma venda errada. Sinto muito me disse a gerente, que nem me orientar a procurar assistência técnica fez.

Sai da loja, sentei em um banco e cada vez que aparecia um cliente na vitrine eu aparecia ao seu lado e lhe explicava a minha situação, pedia licença, falava em tom calmo e ia embora. Tinha gente que escutava e gente que ignorava. E teve uma senhora que ficou muito feliz de ver alguém lutando por seus direitos.

A loja chamou a segurança, eu argumentei dizendo que ninguém havia reclamado, que eu estava ali como consumidora do shopping. Dei uma volta pra desencanar do assunto e voltei. A segurança não podia fazer nada. Abordei mais duas pessoas. E então, um vendedor, o Antonio, saiu bufante da loja, gritando, me mandando ir embora. Virei as costas e sentei novamente nos bancos próximos à loja. Vi que ele chamava novamente o segurança e me dirigi a eles. Me expliquei e eles me orientaram a denunciar o atendente, ainda bufante. Voltei pra casa pra me informar como proceder no Procon, acompanhada da angústia, que acompanha aqueles que querem mudar as coisas, mas não sabem como.

É isso aí, quem acha que consumir dá prazer, apresento-lhes a angústia! A mesma angústia que aparece quando jogo meus quilos de lixo, fruto do consumo desenfreado, numa lixeira cujo destino é a natureza. Essa angustia está em tantos lugares, é só começar a prestar atenção.

13 abril 2010

Sôdade

Passado tudo isso, sinto uma falta de vida,
daquelas vidas em que se respira de verdade.
Comer maça - sem código de barras.
Goiaba do pé, pinha, acerola, romã.

Alguém viu por aqui o cheiro do mato?
A poeira vermelha entrando por entre as frestas.
O vizinho chegando e lhe pedindo um alho.
E tudo ao seu alcance.


Foto: Vinicius Morende

08 abril 2010

Tô com Jorginho Maneiro

Raul Seixas

Eu acho graça

- Alô!
- Oi! É o Jorginho Maneiro? É verdade que agora você é hippie?
- Podiscrer!
- Podiscrer! Podiscrer! Podiscrer!...

Ah! Vou te contar, contigo eu tô
Ah! Vou te contar, contigo eu tô
O tempo todo tô comigo
Eu tô contigo
E sigo na jogada
Eu não tô com nada mesmo
Eu tô de toca e tanga
Eu tô na santa paz, oh nêgo
O Tico-tico e o Teco-teco
Todos tão por dentro da jogada
Eu não tô com nada mesmo
Eu tô muito tranqüilio
Eu tô dizendo adeus

Passo pela praça e acho graça
Falam mal de mim e eu acho graça
Todo tempo ido tá contigo na manhã
Todo tempo tido, tô contigo na manhã
Na manhã! Na manhã!

05 abril 2010

Goldman, a herança de Serra aos paulistas


Eis que surge, sentado na cadeira de governador de São Paulo, Alberto Goldman. Eleito pelo povo como vice-governador, o engenheiro assume o posto para que seu amigo de 30 anos, José Serra, candidate-se à presidência.

Não o conheço muito bem, sou avessa a tucanos, e me chamou atenção o fato de ele ser o presidente do Conselho de Administração do IPT. Ah! Sei, o IPT, aquele órgão “isento e responsável”, que fez a fiscalização nas obras do Metrô!

Sem querer tomar conclusões precipitadas, fiz uma pesquisa básica e encontrei coisas nada boas do atual governador de SP, como a seguinte notícia: “O MP Estadual investiga as relações do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transportes e Meio Ambiente (Idelt) com o governo paulista e prefeituras. O Idelt é uma organização não governamental criada por Alberto Goldman (PSDB)... e recebeu pelo menos R$ 5 milhões dos cofres públicos nos últimos sete anos."

Esse aí nos enfiaram guela abaixo. Não aguento mais isso. Me resta esperar ansiosamente que alguém isento e responsável de verdade lhe puxe o assento o mais rápido possível!