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01 setembro 2010

Eu acredito nessa ação

Às margens da rodovia Anchieta, o Jardim Silvina exibe, entre barracos e casas de alvenaria, o prédio do Centro de Formação Padre Leo Comissari. A associação, que em 1998 iniciou seus trabalhos oferecendo cursos técnicos na comunidade carente de São Bernardo do Campo, hoje agrega um Espaço Cultural, um Ponto de Cultura, uma creche e salas de aula de alfabetização de adultos e de cursos preparatórios para vestibular e concursos públicos. A evolução não para por aí. Do centro, nasceu a Rede Comissari, que fomenta o empreendedorismo e a troca de bens e serviços na comunidade, utilizando princípios da Economia Solidária. E a mais recente manobra da casa é a formação de uma incubadora de cooperativas. Tudo, para cumprir sua missão de resgate da cidadania e da qualidade de vida nas periferias e favelas do ABCD.

Um dos responsáveis pelo constante crescimento do Centro é Ailton Galdino. Aos 26 anos, o jovem que trabalhava como mecânico foi escolhido pelo padre Leo Comissari para estagiar em uma cooperativa, na cidade de Imola, na Itália. Lá fez faculdade e, quando voltou, em 1998, assumiu a gestão da Associação. Galdino percebeu que o mercado não absorvia os alunos que concluíam os cursos de formação profissional oferecidos pelo Centro, hoje cerca de mil por ano. Daí a necessidade de promover e criar empreendimentos para absorção dessa mão de obra. “Comecei a colocar em prática todo meu conhecimento em gestão cooperativa. Primeiro formamos a rede e agora articulamos a incubadora.”

Com quatro anos de existência, a Rede Comissari hoje conta com 25 iniciativas, de diversos setores, unidas para o fortalecimento da economia popular. “Procuramos capacitar os moradores para o empreendedorismo e estimular a troca de produtos e serviços para que a riqueza permaneça na própria comunidade”, explica Galdino. “Assim, se a Cooperativa de reciclagem de óleo precisar aumentar suas instalações vai dar prioridade à contratação da Cooperativa de construção civil, também associada à rede.”

Além de associações, cooperativas e estabelecimentos comerciais locais, a rede ainda conta com duas cooperativas que estão sendo estimuladas e estruturadas dentro da rede que, de forma independente, atua como incubadora. “Por enquanto estamos conseguindo realizar essas ações sem investimentos externos. Estamos buscando o apoio do Sebrae, das prefeituras e do Estado. Mas enquanto isso não acontece, vamos seguir contando com quem já ajuda, como o Banco do Povo de Crédito Solidário”.

Para estimular a compra de produtos e serviços entre os membros da rede, foi criada uma moeda social, o “comissari”, que possui a mesma cotação do real. Por enquanto, a moeda circula somente entre os parceiros da rede, mas a ideia é que ela seja gradualmente expandida para todos os moradores da região. Hoje, os empreendedores participantes do grupo já utilizam o comissari para pagar por produtos e serviços que compram entre si. “Moedas sociais aquecem o mercado, pois não há o princípio de acúmulo. Elas só valem se estiverem circulando, não são especulativas”, diz Galdino.

De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), até 2007 o governo havia mapeado, em 52% dos municípios brasileiros, quase 22 mil empreendimentos econômicos solidários e 45 moedas sociais. O MTE estima que a economia solidária movimente cerca de R$ 8 bilhões por ano.

O Centro de Formação Profissional Padre Leo Comissari foi pensado e fundado pelo padre Leo Commissari, assassinado em junho de 1998, vitima da violência urbana na favela Jardim Silvina.

- Texto Publicado na revista INOVABCD

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