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06 abril 2011

Metrô: degradar para privatizar

Imagino um corpo ocupando o espaço em uma estação de metrô, empurrando catracas, pessoas, produtos, o que ao redor estiver. Esse corpo se mistura numa imensa massa. São muitos corpos, escravos de um sistema, que se deslocam de uma só vez, passando vezes por cima, vezes por baixo da terra. Rompem por trilhos os subterrâneos, por túneis as montanhas, por pontes os rios. Ainda que não se veja essas paisagens. São muitas pessoas nos infinitos vagões. São muitíssimos corpos em muitas latas.

As estações são imensas plataformas, com mais gente indo e vindo. Esse corpo nem caminha. Desliza e segue por outra dimensão. Ele segue no ritmo de uma correnteza cheia, de mar virado. Ninguém se afoga, mas o oxigênio falta para muitos.

Empurrado pra dentro do vagão, esse corpo esvazia a mente para caber melhor. Às vezes se pendura em barras de ferro, recobertas de suor resfriado. Esse corpo já deixou a face estampar o cansaço. Um apito e todos saem do trem. À espera. Outro apito e abarrota-se outro tem. Mais um apito e segue, para mais além dos trilhos, a massa de corpos.

Essa manobra de seres humanos é um sistema de deslocamento, que a cada ano encarece mais e a cada mês aumenta a degradação do bem-estar social. Não que eu dite previsões, mas tamanha é a presunção dos diretores do metrô, que tudo já caminha para um espatifar. Pois desse cenário não se vê outra saída, se não um triste genocídio civil metropolitano.

Eu não quero ver o corpo que imaginei passando por esse processo. E quem iria querer uma coisa dessa?

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