Mas não é que no meio da comemoração acontece o diálogo e eu choro. Olho ao redor e ninguém vê a lágrima, nem eu. Só uma pessoa me lança olhares diferentes. Sem repreensão no tom de sua voz, o Homem fala “você não pode chorar por isso.”
Entendi que ele e muitas outras pessoas jamais sentiriam o meu sentimento, por melhores e maiores que fossem. “Todos buscam coisas para se preocupar. Eu escolhi me preocupar com isso”. Meu choro é uma lágrima só.
A comida acabou, as pessoas tomaram seus cafés e partiram. Minha barriga não saiu tão pesada .Um pouco por conta do diálogo indigesto. Outro tanto por desprezar aquela fartura. Mas na cabeça eu fiquei com a estranheza de um almoço familiar de domingo.
Um homem a me questionar quanto à minha capacidade de sentimento de indignação com relação a mais uma derrota temporária do movimento de mudança e transformação nesse espaço que é o Estado de São Paulo. E eu chorei.
Demorei a perceber o peso da repreensão. E não tive essa consciência sozinha. Encaracolei minha mente com a situação por dias. Me questionei, obstinada a enxergar de qual maneira aquele homem interpretava a realidade.
Não podia ser a mesma realidade que a minha. Será que eu estava perdida? Será que pensava assim sozinha? Não era um menino, uma menina ou uma mulher a me questionar. Era o Homem. E minha lágrima era pela política. Eu devia estar errada.
No dia seguinte, pulei da cama, com vontade de existir e encontrar uma resposta. Parecia tão distante, mas se apresentou ali, à minha frente e a frente de todos. Obstinada, abri a minha mente e escutei o som do cotidiano.
Na noite de terça-feira, tudo fez sentido. Era o homem. Era Chico Buarque, sem mais sobrenomes, como assina seus discos. Era o Chico, das canções eternas, das mulheres. De Brasil a Atenas. De mãos dadas com Gilberto Gil. Assumido protagonista.
Quanta força ganhei. E aquela lágrima sob julgamento foi absolvida. O Outro pode voltar e não desviarei o rosto. De todos os Homens, é mais forte o que inspira uma mulher do que aquele que a repreende.

Chico e Dilma, em 19 de outubro de 2010, Rio de Janeiro
Eu só queria comer macarrão, mas fui obrigado a comer perna de cordeiro e a pagar R$50 por uma mixaria. Como se eu tivesse dinheiro para gastar com isso. Eu comprava era o cordeiro inteiro com R$50. Sem cultura, a democracia é uma merda. E eu ainda prefiro o Gil! Viu?
ResponderExcluirMA_RA_VI_LHO_SO!
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